domingo, 14 de outubro de 2007

Tirando a Barriga da Miséria

Ao longo desse ano, tenho cansado de ouvir aquela ladainha dos rivais, principalmente dos gambás e dos porcos, de que o São Paulo é o time mais beneficiado pela arbitragem. Tenho um amigo palmeirense que chegou ao ponto de dizer que nenhum erro capital de arbitragem foi cometido contra o São Paulo no campeonato todo. Eu poderia perguntar, como de fato pergunto a todos eles quando sou interpelado nesses termos, qual seria a razão de tais benefícios, uma vez que o Tricolor paulista e o Flamengo são os dois únicos clubes que ousam se opor, ainda que de forma tímida, aos manda-chuvas do futebol brasileiro, nomeadamente, Globo, CBF e Clube dos Treze. Como contra-exemplo, lembro também de dois pênaltis inexistentes marcados contra o São Paulo: um sobre Somália, no primeiro turno contra o Fluminense e outro sobre Danilinho, contra o Atlético no Mineirão. O primeiro causou a derrota por 1x0 e o segundo teria causado o mesmo, se não fosse o milagre de Rogério Ceni.

Contudo, não entrarei a fundo nesse ponto. Contentar-me-ei em observar que, independentemente desses caras terem ou não razão, nesse fim de semana todos os abutres que secam o Tricolor puderam tirar a barriga da miséria. De fato, não me lembro de um jogo recente em que o São Paulo tenha sido tão violenta e descaradamente roubado pelo juiz quanto na partida de ontem contra o Fluminense.

Devo dizer que no primeiro tempo o São Paulo não jogou rigorosamente nada e merecia mesmo sair para o vestiário em desvantagem. O time não passou do meio campo, foi dominado pelo tricolor carioca e chegou com perigo pela primeira vez apenas aos 42 minutos, em cabeçada de Leandro defendida por Fernando Henrique. Na primeira etapa não houve nenhum problema com arbitragem, a não ser o pênalti cometido por Fabiano (que, aliás, estreou muito bem), pênalti que pode ser classificado como duvidoso (todo pênalti de goleiro é duvidoso). Mas deixemos isso passar e aceitemos que a penalidade foi bem marcada.

No intervalo, Muricy trocou Jackson por Fernando, mas não mudou taticamente a equipe. O volante atuou pela direita, como ala mesmo. O que mudou foi a disposição do time, que partiu para cima e empatou logo no início, com André Dias, no rebote, após cobrança de escanteio e cabeçada de Brenoenbauer.

Mas foi aí que o juizinho mineiro resolveu aparecer da pior forma possível: cometendo lambanças imperdoáveis. O que é pior: lambanças que sempre prejudicaram o mesmo time. E, para o espanto de corintianos e palmeirenses, esse time foi o São Paulo. Tudo começou com o pênalti escandaloso não marcado em Aloísio. O São Paulo era então melhor na partida e poderia ter virado o jogo nesse lance, o que jogaria a pressão toda para cima do Flu e faria com que o time paulista pudesse atuar da maneira que mais gosta: administrando o resultado. Mas o senhor Ricardo Marques Ribeiro, um Zé Ninguém que queria fazer seu nome, não só ignorou a penalidade como ainda, muito presunçosamente, aplicou um amarelo em Aloísio.

Mas o pior estava por vir. O Fluminense equilibrou o jogo, que ficou lá e cá. Isso até o palhaço apitar mais um pênalti contra o São Paulo. Sem dúvida foi um dos pênaltis menos pênaltis dos últimos tempos. Gabriel entrou na área e mergulhou, enquanto Hernanes, com toda sua elegância de Falcão misturado com Toninho Cerezo, até tirou o corpo, mostrando para todos que não havia sequer tocado no lateral adversário. Mas o perspicaz ladrão não teve dúvida: apontou para a cal e soprou seu apito, emitindo o som dos larápios. Incrível como ele inverteu tudo: deixou de marcar pênalti claríssimo no Aloísio e deu cartão para ele por simulação. Depois, em vez de dar cartão para Gabriel, por manifesta simulação, marcou um pênalti visivelmente inexistente. Resumindo: dois erros (ou será que eu deveria grafar “erros”) que se transformaram em quatro. Sorte que Fabiano nos apresentou à sua estrela e pegou a penalidade, mostrando para o Bruno que eu estava certo quando vaticinei: nasce aqui o sucessor de Rogério Ceni.

Mas ainda não acabou, não. Ajudando a defesa, Aloísio cometeu uma falta absolutamente comum, falta de jogo, nada de mais. Mas lá vem o lazarento, já colocando a mão no bolso do calção. Quando vi essa cena, eu não acreditei: “Já não basta o filho da puta ignorar um pênalti claro para nós, marcar uma absurdidade de pênalti para o adversário... e agora essa?”. O pior não foi nem esse segundo cartão amarelo. Foi aquele primeiro, que Aloísio tomou por ter SOFRIDO um pênalti. Além de complicar o final de jogo para o São Paulo, o panaca do apito criou mais um problema para Muricy. Pois na partida seguinte (contra o Cruzeiro, diga-se de passagem) o Tricolor pode ficar sem atacantes: Tardelli saiu machucado e não sabemos a gravidade; Dagoberto é uma incógnita; Borges não volta tão cedo e Aloísio agora está suspenso. Desse jeito, será preciso lançar mão de Thiago Eto’o, que inclusive substituiu Tardelli no jogo de ontem, mas não teve chance de mostrar seu futebol, visto que entrou em uma fria.

Depois de tudo isso, ainda tive de escutar o Wright dizendo que o dito cujo é um dos juízes que irão passar por uma reciclagem da CBF. Não pude resistir à cornetada: “Reciclagem uma ova! Essa merda tem que ir pro lixo comum e não apitar nunca mais!”.

No fim das contas, considerando-se todas essas circunstâncias, o empate foi um excelente resultado para o São Paulo, principalmente porque Cruzeiro e Santos também não venceram. Espero que os abutres tenham ficado satisfeitos. Afinal, se eles queriam tanto ver o Tricolor ser roubado, a partida de ontem foi um prato cheio, ou melhor, um banquete dos mais fartos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Heróis de Ninguém

Devido à máfia da televisão que controla o futebol brasileiro hoje em dia, raramente tenho a oportunidade de acompanhar um jogo entre dois times do Rio de Janeiro, seja do campeonato local ou do Brasileirão. E isso me deixa bastante triste, uma vez que a privação de embates cariocas faz com que uma de minhas primeiras e mais agradáveis experiências ludopédicas fique, a cada ano que passa, mais descolorida e perdida em algum lugar nebuloso da minha já surrada memória. Estou falando do Campeonato Carioca.

Desconfio que os torcedores paulistas um pouco mais jovens do que eu jamais assistiram a sequer uma partida inteira e ao vivo do certame mais charmoso do mundo. Felizmente minha geração ainda pegou a época em que a Band transmitia o torneio, sim, para todo o Brasil, ali pelo começo e meados dos anos 90. Ah, e que grande espetáculo era aquele! Os magníficos clássicos de domingo no Maracanã! Clássicos em que os clubes grandes mandavam a campo times verdadeiramente grandes. Até os jogos de segunda à noite, quando Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco iam a alguma Rua Bariri ou Moça Bonita da vida para enfrentar o time da casa, eram sensacionais.

Eu acompanhava o campeonato dos vizinhos com a mesma ou talvez até com mais atenção do que a dedicada ao meu torneio doméstico. E torcia pelo Fluminense, talvez por alguma influência de sua tricoloriedade, predicado que une por um laço fraterno o clube das Laranjeiras e o meu time de coração. Mas esse não era o principal motivo da minha preferência pelas “três cores que traduzem tradição”. O Flu era meu time porque nele atuava meu primeiro ídolo no futebol, um herói, um super-herói, meu grande herói: o Super Ézio. Como jogava aquele Super Ézio! Centroavante grossíssimo, é verdade, mas o que importa? Ele era oportunista como poucos, sempre estava no lugar certo para balançar as redes: autêntico ruim-que-faz-gol do mais fino pedigree. E como fazia gol! Era sem dúvida um ente sobre-humano, ao menos dentro da grande área. Depois de Romário, é Super Ézio na cabeça. Pobre Madureira! Quantos gols o infeliz tricolor suburbano não levou do demoníaco matador, assassino nato de goleiros? Era cruel, muito cruel aquele artilheiro! Um pecado dos mais lastimáveis é o fato de Nelson Rodrigues não ter vivido para ver o Super Ézio em ação. Imaginem quantas e quão fabulosas crônicas não teriam nascido nas tintas daquele genial e fanático tricolor.

Um tal mito, uma tal lenda, uma tal aura que se configurou em torno de um jogador aparentemente comum não poderia surgir senão a partir da obra de outro gênio. Foi, de fato, a voz marcante de um divino locutor o solo fértil no qual tal figura pôde verdejar. Ficou a cargo de Januário de Oliveira, um verdadeiro rapsodo das sagas ludopédicas, a tarefa de cantar as gestas épicas do herói. Além do “cruel, muito cruel” já citado, o folclórico Januário criou bordões inesquecíveis, que integrarão a antologia do esporte até o fim dos tempos. Ainda hoje posso ouvir, ecoando em minha memória, a frase que se seguia ao apito inicial: “Bola rrrrrrolando no Maracanã!”. E também aquele brado altissonante, pronunciado toda vez que um atleta ficava prostrado no solo: “TÁ LÁ mais um corpo estendido no chão!”. Sem falar no comentário singelamente jocoso, apresentado sempre que um boleiro realizava uma lambança bisonha: “Sinistro, muuuuito sinistro!”.

Januário era um artista. Januário pintava quadros e esculpia mármores com a vós. Impressionante como ele conseguia transpor para a TV a magia e a potência criativa da narração do rádio. Só ele foi capaz de realizar esse feito. Super Ézio foi sua criação máxima, sua obra-prima. E o Ézio real não decepcionava: castigava as redes como um sádico. Todo jogo do Flu com Januário no microfone era garantia de que o grito de louvor ao super-herói seria escutado, provavelmente mais de uma vez na partida: “Cruel, muuuuito cruel esse Super Ézio!”.

Esse maremoto de recordações veio a inundar minha praia mental devido ao clássico do próximo domingo, o clássico dos clássicos, “o clássico que começou quarenta minutos antes do nada”. De fato, foi justamente um Fla-Flu daquela época áurea o melhor jogo de futebol que presenciei em toda minha vivência ludopédica. A finalíssima do Carioca de 95 foi um momento singular, no qual toda a eternidade do tempo se mostrou menor do que noventa minutos, no qual toda a extensão espacial do universo ficou circunscrita a uma relva de 110 por 75 metros. Foi um momento em que todos os seres vivos do planeta perderam sua individualidade e passaram a ser representados sob a forma de vinte e dois entes transcendentais; um momento em que uma reles esfera feita de epiderme bovina passou a reluzir mais que ouro e a valer mais que a pedra filosofal. Quem viu aquela final chegou ao conhecimento mais imediato do fundamento ludopédico da existência. O futebol em si, despido de suas formas acidentais, nunca se mostrou de forma mais nítida e acessível ao nosso limitador aparato sensorial.

O Flamengo era “o time dos sonhos”. No ano do centenário, Kleber Leite gastou a prata que tinha e que não tinha para montar uma seleção brasileira na Gávea: Branco, Mazinho, Sávio, Romário, entre outros. Mas tudo isso foi em vão. Pois o Tricolor, embora não tivesse nenhum craque, a não ser Renato que, no entanto, já via raiar no horizonte o crepúsculo de sua fase knocking-on-heaven’s-door, apesar disso, ia dizer, o Flu contou com a ajuda do Olimpo. Hércules e Aquiles foram enviados ao Maraca para serem os anjos protetores das Laranjeiras.

Insuflados por essa força, os guerreiros do Flu se transformaram em heróis supremos, embora fossem, em todos os outros dias das suas vidas, heróis de ninguém. O galináceo arqueiro Wellerson teve uma tarde de Castilho; Ronald, lateral direito cuja pobreza técnica era de dar dó, jogou como Carlos Alberto Torres; Márcio Costa foi um Didi da nova era; Djair armou o jogo com a elegância de um Gérson moderno e Rogerinho despendurou as chuteiras de Rivelino. No primeiro tempo, o tricolor já fazia 2x0. O time jogava tanto que até passava despercebido o pecado maior, consumado na prancheta de Joel: Super Ézio no banco!

Mas na segunda etapa o Fluminense recuou, fruto do espírito retranqueiro de seu folclórico treinador. O Flamengo foi para cima e empatou em poucos minutos. Com o jogo cada vez mais nervoso, foi necessário lançar mão do super-herói, principalmente após a expulsão de Lira. Super Ézio não fez gol, mas lá estava ele, na área adversária, distraindo os beques rubro-negros, abrindo caminho para Aílton dançar como Garrincha e desferir o petardo, chute que tinha destino certo, determinado por uma necessidade absoluta, como se todos os eventos ocorridos desde o início dos tempos houvessem conspirado para a realização daquele desfecho, o fim último de toda a existência: Renato, o Édson Arantes do dia, meteu a barriga na pelota e decretou os 3x2. Uma vitória sublime: um “cínico e deslavado milagre!”, é o que provavelmente berrava Nélson no firmamento dos gênios, provando para Kant e Platão que, diante das incontáveis improbabilidades já consumadas pelo futebol, a crença em qualquer conhecimento a priori se mostra uma doce e infantil ilusão.

Ainda bem que meu sãopaulinismo já estava consolidado em bases firmes após os anos dourados de 91, 92 e 93. Caso contrário, eu teria me tornado nesse dia um daqueles raros e estranhos seres híbridos, paulistas de nascimento, cariocas de clube, ou vice e versa. E nesse mesmo ano, ano do pior time do São Paulo que eu já presenciei, contentei-me em torcer muito pelo Flu em outra epopéia, o embate contra o Santos, na semifinal do Brasileirão. Infelizmente, no segundo melhor jogo que eu já vi, foi a vez de Giovanni encarnar Pelé e conduzir o Peixe à decisão.

O mais estranho e assustador disso tudo é que foi justamente após o mágico ano de 95 que começou o declínio do futebol carioca. Coincidência ou não, isso ocorreu a partir do momento em que Super Ézio saiu do Flu, a Band deixou de transmitir o campeonato e Januário de Oliveira foi da glória ao ostracismo. O encanto havia acabado. Não tardou para que o nível do torneio fosse lá embaixo, para que os grandes caíssem em um abismo financeiro e para que o Tricolor, sem seu super-herói, fosse parar na terceirona.

Após sair do Flu, Super Ézio sumiu sem deixar notícia. Fiquei desamparado. Depois de algum tempo, por volta do ano 2000, quando já quase me esquecera de meu primeiro ídolo, tornei a vê-lo, em um programa esportivo. Foi uma experiência tétrica, mais do que decepcionante, desalentadora, fúnebre. Eis que Ézio, já despojado do epíteto e dos super poderes, concedia uma melancólica entrevista, explicando ao repórter porque havia abandonado o futebol para seguir uma mundana carreira de representante comercial, vendedor, ambulante, caixeiro-viajante ou algo que o valha, nem me lembro. Tampouco lembro do motivo: tratei de apagar os detalhes de minha memória. Em tal momento, enquanto ouvia as palavras do ex-super-herói, veio à minha mente um trecho da música que empresta o título a este texto: “When I heard that he was gone / I felt a shadow cross my heart / But he’s nobody’s hero...”. O mesmo pensamento me veio esses dias quando lembrei de Januário. Não sei nem se ele ainda está vivo!

Enfim, todo aquele onírico mundo maravilhoso ficou para trás. Mas posso afirmar com certeza absoluta que se não fosse essa época, a Rua Bariri, o Madureira, o Bangu, o Olaria, o Januário, o Super Ézio, os heróis de 95, o gol de barriga... dificilmente eu seria tão fanático por futebol como sou. Agora resta-me esperar que a TV paga tenha a bondade de transmitir o Fla-Flu de domingo para São Paulo. Tudo bem, eu sei que não será a mesma coisa: o jogo não vale título, longe disso; o Maracanã certamente não estará lotado; Joel estará do outro lado; Renato, de calça e camisa e sem faixa na cabeça, ficará parado, restrito ao metro quadrado de sua área técnica; no campo, nada de Romário nem de Super Ézio; e na cabine, em vez de Januário, um narrador insosso do Sportv. De qualquer modo, espero que o Flu vença com um gol de barriga do Somália aos 41 do segundo tempo. A magia acabou, é fato. Mas ainda “é disso, é disso que o povo gosta... e eu também, Ádison!”.

Assista aqui ao gol de barriga narrado por Januário de Oliveira. A qualidade da imagem é péssima, mas o que vale é o áudio. O engraçado é que nem o narrador nem o repórter Ádison Coutinho, que estava na beira do campo, perceberam o desvio de Renato. Demorou mais de um minuto para eles corrigirem o erro. Se não fossem as câmeras de TV, Aílton teria ficado com a glória.

Seleção do Brasileirão


Aproveitando o embalo do Dênis, e para cobrir o espaço do meu texto que não fica pronto nunca, também resolvi fazer a minha seleção do brasileirão. O critério é para lá de subjetivo e nem sempre escolhi os melhores jogadores, mas sim aqueles que acredito que formariam um time melhor (de acordo, claro, com minha concepção de futebol) juntos. Bom, vamos aos comentários para ver se consigo criar um pouco de polêmica nesse blog!

Rogério Ceni, Miranda e Alex Silva: Quanto a estrutura defensiva (miolo de zaga + goleiro), não há o que comentar. Os números falam por si. Foi difícil escolher entre Alex Silva e Breno, mas fiquei com a experiência maior (nem tão maior, admito) do primeiro em jogar com dois zagueiros.

Joílson: Lateral/Ala bastante ofensivo. Chega muito no ataque, até demais. Exigiria um trabalho de cobertura muito bom dos dois volantes. Mas, resolvi escolhê-lo para acabar com a minha fama de retranqueiro e para compensar a falta de correria do Paulo Baier (que coloquei na meia).

Kléber: Excelente jogador. O melhor cruzamento do Brasil e um dos melhores do mundo. Mantendo a tendência desse time de chegada forte pela lateral. Além do mais, ainda pode atuar no meio.

Hernanes: Me surpreendeu e muito. Aprendeu a marcar. Tem técnica, força e habilidade para sair jogando com velocidade e precisão.

Martinez: Mantendo o estilo de um time leve, mais um volante que não é cabeça de bagre. Junto com Hernanes daria ao time qualidade na saída de bola e muita movimentação. Além do mais, seria o homem para bater faltas com o pé esquerdo.

Valdívia: É cai-cai. Prende a bola demais. Mas, que é craque, é.

Paulo Baier: Jogou sozinho no Góias. Está aprendendo a compensar a falta de velocidade (idade chegando) com passes precisos, experiência e visão de jogo. Em um mundo onde os armadores desapareceram, está acima da média.

Acosta: Faz muito gol no Naútico. E é o marginal (olha a quantidade de vezes que foi expulso) que todo time precisa ter.

Alecssandro: Faz muito gol. Ponto. (Nota: aqui fiquei em dúvida entre o Alecssandro e o Kléber Pereira que também faz muito gol.. mas, por ter jogado mais o campeonato, escolhi o cruzeirense).

Muricy Ramalho: Cornetei e continuo cornetando. Demora demais para mexer, é teimoso, deixa o time nervoso... mas, ninguém é tão bom quanto ele nos trabalhos de CT.

Breno: Só não escolhi o Felipe do Corinthians porque achei que não cabia, devido ao excelente Campeonato Paulista que ele fez. Já sabia que ele era bom antes do Brasileiro começar, logo não cabia como revelação.

Miranda: Praticamente não erra. Porto seguro da zaga menos vazada do mundo.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Seleção do Brasileirão 2007

A Gazeta Esportiva.Net e a Rede Gazeta de Televisão estão promovendo o troféu Mesa Redonda 2007. O prêmio, realizado anualmente desde 2004, é concedido aos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro de Futebol. Dentre as várias categorias premiadas, destacam-se a de melhor jogador, melhor técnico e jogador revelação.

A eleição é aberta ao público. Para participar, basta acessar o site da Gazeta Esportiva.net e fazer as escolhas. As minhas podem ser conferidas abaixo:

(a Seleção: Rogério Ceni, Breno, Miranda, Elder Granja, Kléber, Hernanes, Martinez, Jorge Wagner, Valdívia, Dagoberto e Fernandão. O Melhor técnico: Muricy Maralho. A revelação: Breno. O melhor Jogador: Miranda)

O resultado parcial da eleição (no dia 01/10) é o seguinte:

ESQUEMA TÁTICO: 4-4-2 / 60%

GOLEIRO: ROGÉRIO CENI (SÃO PAULO) / 40%
FELIPE (CORINTHIANS) / 32%
DIEGO (PALMEIRAS) / 24%

ZAGUEIRO:MIRANDA (SÃO PAULO) / 21%
ALEX SILVA (SÃO PAULO) / 18%
BRENO (SÃO PAULO) / 14%
ZELãO (CORINTHIANS) / 10% <--- a democracia tem dessas coisas! BETãO (CORINTHIANS) / 10% <--- a democracia tem dessas coisas! GUSTAVO (PALMEIRAS) / 8% <--- a democracia tem dessas coisas!

LATERAL: KLéBER (SANTOS) / 19%
GUSTAVO NERY (CORINTHIANS) / 13% <--- a democracia tem dessas coisas! ÉVERTON (CORINTHIANS) / 10% <--- a democracia tem dessas coisas! SOUZA (SÃO PAULO) / 8% JUNIOR (SÃO PAULO) / 7% PAULO BAIER (GOIÁS) / 6%

VOLANTE: HERNANES (SÃO PAULO) / 18%
VAMPETA (CORINTHIANS) / 15% <--- a democracia tem dessas coisas! RICHARLYSON (SÃO PAULO) / 15% PIERRE (PALMEIRAS) / 11% BRUNO OCTáVIO (CORINTHIANS) / 11% <--- a democracia tem dessas coisas! MARTINEZ (PALMEIRAS) / 8%

MEIO CAMPO: VALDíVIA (PALMEIRAS) / 27%
JORGE WAGNER (SÃO PAULO) / 23%
LULINHA (CORINTHIANS) / 19% <--- a democracia tem dessas coisas! THIAGO NEVES (FLUMINENSE) / 5% CAIO (PALMEIRAS) / 4% WAGNER (CRUZEIRO) / 3%

ATACANTE: DAGOBERTO (SÃO PAULO) / 18%
FINAZZI (CORINTHIANS) / 13% <--- a democracia tem dessas coisas! ARCE (CORINTHIANS) / 12% <--- a democracia tem dessas coisas! ALOíSIO (SÃO PAULO) / 10% EDMUNDO (PALMEIRAS) / 7% KLéBER PEREIRA (SANTOS) / 7%

TéCNICO: MURICY RAMALHO (SÃO PAULO) / 56%
CAIO JR (PALMEIRAS) / 20%
VANDERLEI LUXEMBURGO (SANTOS) / 12%

REVELAÇÃO: LULINHA (CORINTHIANS) / 41% <--- a democracia tem dessas coisas! BRENO (SÃO PAULO) / 31% MIRANDA (SÃO PAULO) / 4%

MELHOR JOGADOR: ROGéRIO CENI (SÃO PAULO) / 29%
LULINHA (CORINTHIANS) / 22% <--- a democracia tem dessas coisas! VALDíVIA (PALMEIRAS) / 19%

Do jeito que vai a eleição, quem não esteve na Terra nos ultimos anos pode acabar imaginando que o Corinthians está brigando pelo topo da tabela.

Participe da eleição. Se lá no site da Gazeta os corinthianos têm avacalhado a votação, aqui, Os 3 Corneteiros, na pior das hipóteses, descerão a corneta!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Garrincha: o gênio de que ouvi falar

Pouco importa que Manoel dos Santos, Mané Garrincha, jamais tenha, de fato, apelidado de “João” ao menos um dos defensores que tentavam, na maioria das vezes inutilmente, conter os seus avanços pelo flanco direito dos gramados. Na verdade, teria sido um jornalista quem criara esta estória, mais uma a dar corpo ao emaranhado de fatos e invenções que adornam o mito mané. Mas, neste caso, a questão do “disse” ou “não disse” não tem, por exemplo, a mesma relevância da polêmica em torno da mais célebre frase de Maquiavel, aquela que ele jamais disse, a saber, “que os fins justificam os meios”. Porque Maquiavel, além de não ter enunciado a frase que veio tornar-se a máxima do chamado “maquiavelismo”, também não elaborou, como se costuma supor, uma teoria política ressonante com essa máxima. Em Maquiavel, os fins não justificam os meios, e a idéia contrária só é possível graças a uma leitura equivocada dos textos do pensador. Mas, no caso do Mané, o fato dele não ter enunciado o “João” não muda em nada o fato dele ter dado vida, não a um somente, mas a centenas deles.

Para quem não viu Mané Garrincha jogar, como é, obviamente, o meu caso, é muito difícil descobrir, por trás dos discursos saudosistas e inflamados daqueles que o viram, testemunhas ainda boquiabertas, como o ex-jogador e amigo do Mané, Nilton Santos, os jornalistas e escritores Armando Nogueira, Nelson Rodrigues e Carlos Drummond de Andrade, quem foi e como era, realmente, o jogador. O que esses discursos apaixonados fazem é construir a imagem de alguém que estava mais para extraordinário que para o humano. Mané seria, assim, um desses seres sobrenaturais, fugidos do Olimpo, que de tempos em tempos o esporte traz à forma humana, tais como os futebolistas Pelé, Maradona, Cruyff, Zico, Leônidas da Silva, Puskas, Zidane, Yashin, Platini, Rogério Ceni e Beckenbauer, ou os incríveis tenista e nadador, respectivamente, Roger Federer e Michael Phelps, ou ainda, do boxe, os pugilistas Mohamed Ali e Mike Tyson, e, por fim, do basquete, o realmente fenomenal Michael Jordan. Para todos esses atletas, a conquista da vitória parece ser apenas um evento acidental e sem importância quando comparada aos seus poderes de tornar reais até mesmo as idéias mais ousadas que brotam na mente de um atleta. A eles tudo parece possível e, o que é mais assombroso, tremendamente fácil.

A idéia de que Garrincha, dentre outros gênios acima citados, não tenha sido um humano, como sugeriu, brincando, meu amigo corneteiro César, talvez seja a premissa necessária para explicar como alguém que foi tão brilhante dentro das quatro linhas pode, fora delas, definhar de maneira tão triste, vítima, sobretudo, do alcoolismo. Garrincha não cabia nos estreitos limites morais da sociedade brasileira, menos ainda, como se sabe, nos limites do seu próprio corpo. Não o julgo, apenas lamento o rumo que sua vida tomou, desembocando na doença, solidão e tristeza. No fim das contas, parece ser um erro querer dissociar o Mané jogador do Mané pai de família, boêmio e amante, do mesmo modo que é absurdo imaginar que suas pernas pudessem ser tortas dentro de campo e, fora dele, corretas. A respeito disso tudo, sábias mesmo são as palavras de Nelson Rodrigues: “um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané”.

O que havia de mais encantador no jogador Garrincha, ao menos de acordo com o que os relatos sobre ele permitem crer, era como ele, indiferente aos outros vinte e um jogadores em campo e até mesmo à lógica sem graça do perde e ganha do futebol, parecia ser o praticante solitário de uma modalidade esportiva diferente, criada por ele mesmo, a partir duma costela do futebol. É claro que a carreira futebolista de Garrincha foi repleta de vitórias. Ele, ao lado de Pelé e outros gênios do futebol, conquistou a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, e, quatro anos depois, no Chile, com os gênios nas costas, a de 1962. Mas não foram simplesmente as medalhas e os troféus conquistados por Garrincha o que o elevaram à condição de mito, mas principalmente o drible, sua arte maior.

Armando Nogueira brinca que, “para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio”. É daí que afirmo que ele era o praticamente solitário de uma modalidade própria, que não era futebol, embora brotasse dele. Quando Mané parava em frente aos marcadores adversários e punha em marcha aquele ritual de ir mas não ir, de que importava o gol? Garrincha encarava os marcadores, dava vida a eles e, depois, num movimento rápido, mas simples, deixava-os para trás. Às vezes até mesmo empurrava a bola um pouco à frente, ameaçando entregá-la ao adversário, depois a recolhia, e partia. Armando Nogueira tem uma tese interessantíssima sobre os dribles de Garrincha, para ele, “o drible é, em essência, fingir que se vai fazer uma coisa e fazer outra; fingir, por exemplo, que se vai sair pela esquerda, e sair pela direita. Pois o Garrincha é a negação do drible. Ele pega a bola e pára; o marcador sabe que ele vai sair pela direita; o público todo sabe que ele vai sair para a direita; seu Mané mostra mais uma vez que vai sair pela direita; a essa altura, a convicção do marcador é granítica: ele vai sair pela direita; Garrincha parte e sai pela direita. Um murmúrio de espanto percorre o estádio: o esperado aconteceu, o antônimo do drible aconteceu”.

Essa descrição me faz lembrar um pequeno trecho da resenha de Marcelo Hessel, do Omelete, sobre o filme “Missão: Impossível III”. O crítico ressalta a marca que o diretor J. J. Abrams imprime no filme. O cineasta, antes de fazer com que o mocinho derrube os vilões coadjuvantes (daqueles coadjuvantes anônimos e mudos que são derrubados aos montes em filmes de ação), tem o cuidado de fazer com que a câmara se ocupe de apresentá-los: aproxima-se deles, mostra com um close os seus rostos, dá-lhes vida. Segundo Hessel, “é como se Abrams se importasse com eles, segundos antes de autorizar o trucidamento”. Abrams também faz algo semelhante em Lost, série televisiva de que é criador. Os fãs de Lost já estão acostumados ao seu estilo: antes de submeter os personagens às aventuras da história, Abrams tem o cuidado de apresentar minuciosamente cada um deles, com flashbacks.

Se procura-se fazer a mesma comparação com outros grandes dribladores, não dá certo. Maradona, por exemplo, com aquele golaço que marcou contra a Inglaterra na Copa de 1986, estaria muito mais para Quentin Tarantino que para J. J. Abrams. O deus argentino avançou com tanta velocidade e desprezo por seus marcadores, mais fugindo deles do que os encarando, que esses nem mesmo pareciam ter rosto; eram verdadeiramente coadjuvantes, panos de fundo da ação. Quem assistiu a Kill Bill vol. I e lembra-se da cena no restaurante japonês, certamente compreende a comparação.

Igual a Garrincha, em relação ao estilo de drible, jamais houve. Mas, a fim de esclarecer a diferença entre ele e os outros, cabe trazer à memória dois lances, ambos protagonizados por craques brasileiros. Romário, jogando pelo Flamengo, em 1999, pela Copa Rio São Paulo, pára com a bola nos pés já dentro da grande área; em frente a ele, a poucos centímetros, Amaral, o infeliz marcador; com um rápido elástico, num dos dribles mais incríveis que já vi, Romário deixa para trás o marcador corintiano atordoado e, com um leve toque do bico da chuteira, já quase sem ângulo, marca um gol simplesmente fantástico. Aí a torcida adversária teve que aplaudir. Amaral, tendo certamente comprometido a coluna, saiu do Corinthians pouco tempo depois.

O outro lance é protagonizado por Robinho, jogando pelo Santos, no final do Campeonato Brasileiro de 2002, contra o Corinthians. Com uma coragem e ousadia raras, sintomas de molecagem, ele avançou em direção ao marcador, o lateral direito Rogério, com as pedaladas que tornaram, definitivamente, a “pedalada” sua marca registrada. Atordoado com a ousadia do moleque franzino, Rogério foi recuando, recuando, recuando, entrou na área e, já fora de si, cometeu o pênalti.

A essência desses lances, tão fortemente marcados por um estilo mané, pode ser explicada citando-se Drummond: “se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios”.

Jogadas como as que o Mané fazia tão facilmente, bastando para tanto, que quisesse - e cujo estilo alguns raros jogadores foram capazes de imitar, como fizeram Rivelino e Romário, e fazem Robinho e Cristiano Ronaldo - produzem duas reações: alegria, dada a graça do drible, e pena, do “João”.

Denis Barbosa Cacique – 15 de setembro de 2007 (o bolão só termina quando o bolão acaba)

domingo, 16 de setembro de 2007

A Maldição do Campeão

Certa vez, eu e meu colega de cornetagem, Bruno, conversávamos sobre algumas das peculiaridades do futebol, vocês sabem, aquelas características que fazem do esporte bretão o mais belo, emocionante, poético e místico dentre todos os demais. Após vários argumentos, alusões e recordações, ambos chegamos a uma mesma conclusão: no mundo da bola, as leis estabelecidas pelas ciências não se aplicam de forma regular e previsível. Vejam, não estou dizendo que o futebol é totalmente sem nexo. Com efeito, as leis da lógica, da matemática e da física funcionam, como queria Kant, de forma necessária e universal durante a maior parte do tempo em que a bola rola. Contudo, existem alguns momentos, instantes de dimensão imensurável, durante os quais o futebol parece ser regido por algum tipo de deus do caos, que faz com que todas as supracitadas ciências falhem retumbantemente na tentativa de explicá-los racionalmente. Em tais momentos, temos a impressão de que os deuses sérios saem de férias e deixam o poder esférico nas mãos de uma espécie de Dioniso de chuteiras, ou de algum anjo decaído que possui os poderes de Hiro Nakamura. O fato é que a configuração espaço-temporal mostra-se totalmente distorcida e ainda não surgiu nenhum Einstein da bola que fosse capaz de explicar esses desvios.

Foram exatamente essas meditações cornetísticas que nos deram a idéia de criar a seção “Improbabilidades Infinitas”, um espaço onde nos propomos a relembrar e comentar os momentos e fatos mais estranhos, inacreditáveis e inexplicáveis do ludopédio. Nesta presente cornetagem, tratarei de uma coisa extremamente menosprezada por todos, ironizada pelos racionalistas de plantão, chamada de sobrenatural, fictícia, fruto de mentes delirantes. Não faltará quem me acuse de apreciador de filmes B tipo “Colheita Maldita” e das satânicas canções do Iron Maiden e afins. Mesmo assim, tenho de dizer que estou absolutamente convencido de que, pelo menos no terreno do futebol, ela existe e deve ser temida. Estou falando da maldição.

Ao procurarmos os exemplos e manifestações mais recentes de Lúcifer no mundo da bola, vamos parar direto na Europa, mais precisamente na UEFA. E este é um momento oportuno para falar sobre isso, uma vez que a nova temporada da Champions League, reduto mais badalado do momento para os corvos ludopédicos, está prestes a começar. A primeira pergunta que surge quando se inicia um certame é aquela de sempre: quem será o campeão? Liverpool, Chelsea, Manchester, Real Madrid, Barcelona, Internazionale? Muito difícil responder. Arriscar um palpite a essa altura é dar um tiro no escuro. Estou fora. Todavia, há algo que eu posso afirmar com segurança e sem medo de errar: o Milan NÃO será campeão.

Alguém logo perguntará: “Por quê? Existe uma razão que justifique essa afirmação temerária?”. Eu respondo: razão, razão mesmo não há. Contudo, existe sim e sem sombra de dúvidas... uma maldição: a “Maldição do Campeão”. Não é brincadeira, é fato: desde a temporada 1992/93, quando a antiga Copa dos Campeões da Europa passou a se chamar UEFA Champions League e a ter o presente formato, jamais um clube se sagrou bi-campeão. E mais: ao longo dessas quinze temporadas, apenas três campeões chegaram à final no ano seguinte ao título: Milan (94/95), Ájax (95/96) e Juventus (96/97). Fora isso, o melhor resultado de um campeão foi ter alcançado a semifinal: Borussia Dortmund (97/98) e Real Madrid (00/01 e 02/03). Os outros nove campeões caíram todos prematuramente.

E a coisa parece estar se agravando cada vez mais. No século 21, com exceção do Real Madrid, nenhum campeão chegou sequer à semifinal. O melhorzinho foi o Bayern que, em 01/02, chegou às quartas de final. Quanto aos outros,... uma tragédia pior que a outra.

Vejam só a história da temporada 03/04 e me digam se a coisa não ultrapassa os limites da razão. Nesse ano, a coisa foi tão feia que a maldição atingiu não apenas o atual campeão, como também o vencedor retrasado. O Real Madrid, que erguera a taça em 01/02, fazia uma boa campanha e chegou às quartas para enfrentar o inexpressivo Mônaco, cujos principais jogadores eram Morientes e Giuly (!!). Com Zidane, Figo e Ronaldo (em forma), o Real venceu a ida por 4x2, no Santiago Bernabeu. Fatura liquidada, certo? Diga isso para os corvos malditos. No jogo de volta, o time do principado fez 3x1, com direito a gol de letra do Giuly (!!!). Real eliminado pela regra dos gols marcados fora de casa.

Agora, se isso ocorreu com o campeão de dois anos antes, imaginem o que os corvos reservavam para o pobre Milan, ganhador do ano anterior. Os italianos, também nas quartas, pegaram o Deportivo La Coruña. Primeiro jogo, em San Siro: Milan 4x1. Festa rossonera: a vaga na semifinal estava garantida. Mas, no caminho havia uma... maldição. Carlo Ancelotti foi à Galícia crente de que bastava administrar o jogo. E que bela administração! No intervalo, o Deportivo já enfiava 3x0, placar suficiente para lhe garantir a classificação. Ainda assim, na segunda etapa, Fran teve tempo para decretar os 4x0. As semifinais do torneio foram: Chelsea x Mônaco e La Coruña x Porto. Estes foram os primeiros indícios de que 2004 se configurava como o ano da zebra no calendário ludopédico, o que foi confirmado logo em seguida com a conquista da Libertadores pelo Once Caldas e da Eurocopa pela Grécia. Ah, já estava me esquecendo: na final, o Porto bateu o Mônaco por 3x0. Um dos gols foi de... Carlos Alberto! (Sim, ele mesmo, do Corinthians, do Fluminense,...).

Chegamos então à temporada 04/05. O Porto quase caiu na primeira fase (o que seria inédito para um campeão). Uma vitória na bacia das almas contra o Chelsea evitou o pior. Mas nas oitavas não teve jeito: maldição. Na ida, em casa, 1x1 contra a Inter. Na volta, no Giuseppe Meazza (afinal, San Siro é o campo do Milan), 3x1 para os italianos.

Em 05/06, o Liverpool defendia o título, após consumar uma das maiores improbabilidades infinitas da história. Na final do ano anterior, foi para o intervalo tomando de 3x0 do Milan. No segundo tempo, o milagre: 3x3, seguido da vitória nos pênaltis, com Dudek no gol (ah, é uma improbabilidade mais infinita que a outra). Entretanto, no ano seguinte, isso já fazia parte do passado e os Reds tinham um adversário mais poderoso do que o Milan ou qualquer outro grande clube. Na primeira fase, tudo até que ia bem: Rafa Benítez cantou Don’t Let Me Down para os corvos e seu time terminou em primeiro lugar num grupo que tinha o Chelsea. Nas oitavas, encararia o inofensivo Benfica. Inofensivo em situações normais, mas desta vez os portugueses tinham o Sobrenatural de Almeida como seu fiel escudeiro. Resultado: duas derrotas dos Reds, sem marcar nenhum gol, incluindo um 2x0 em pleno Anfield Road. Essa temporada acabou por consagrar o Barcelona e mais uma improbabilidade infinita: na final, 2x1 sobre o Arsenal, de virada. Quem fez o gol do título? Sim, ele mesmo... BELLETTI.

A temporada 06/07 pintava como a grande chance de se pôr fim às lucubrações satânicas que vinham assombrando a liga há tantos anos e mandar os corvos de volta às profundezas do limbo. Afinal, o Barça, um império de tradição ludopédica, dono de um verdadeiro timaço, parecia ser à prova de maldições. “Més que un club!”, bradam os catalães. “Més que una maldición!”, bradaram os corvos. A tragédia blau-graná já começou no sorteio: um grupo com Chelsea, bi-campeão inglês, e Werder Bremen, vice alemão. E tudo ficou realmente complicado após as batalhas (literalmente) contra os Blues. A derrota em Standford Bridge e o cruel 2x2 no Camp Nou, com aquele gol do Drogba aos 45 da etapa final, colocaram o Barça em terceiro lugar. Só que aí, os corvos resolveram dar uma breve trégua. Os catalães passaram para o mata-mata, graças aos 2x0 sobre o Bremen, com gol de Gudjohnsen e tudo (ah, essas improbabilidades não acabam mais). Mas então veio o Liverpool e a maldição deu as caras de novo. Derrota por 2x1 de virada, em pleno Camp Nou, com gol de pé direito do Riise (!!). Na volta, o Barça foi bravo e venceu por 1x0, gol de... pois é, Gudjohnsen. Inútil: os gols fora de casa foram fatais.

Resumo da ópera: os tifosi milanistas podem ir colocando as barbinhas de molho. A festa, após a vingança contra o Liverpool, foi boa enquanto durou. Agora, a nova temporada promete ser negra, pelo menos no que se refere à Champions League. A primeira fase até que deve ser tranqüila, contra Benfica, Celtic e o poderosíssimo Shakhtar Donetski. Mas depois é que eu quero ver. Se o Milan cair nas oitavas, alguém ainda duvidará dos poderes sinistros que rondam os gramados europeus? E não adianta matar os corvos. Satanás ludopédico enviará outras aves agourentas para nos assombrar. A Maldição do Campeão é real.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Apologia do Impedimento

“... está na hora de acabar de uma vez por todas com a tal lei do impedimento (...). Só o fim desse mandamento devolveria uma certa graça às artes ludopédicas. Paralisar uma linda jogada apenas porque um atacante está com o nariz além do beque é um atentado à existência. Imagine quantos gols teríamos a mais nas partidas! Seria fabuloso, de encher os olhos, mesmo com a escassez de craques momentânea. O fim da regra maldita devolveria o futebol às suas origens, daria o charme da pelada e a classe do gol de banheira. Acabaria com a tristeza que toma conta dos estádios e das várzeas, que melancolicamente seguem as regras do futebol profissa”.

Eis um trecho da coluna de Xico Sá na Folha de 24/08/2007, intitulada “Pelo fim da lei do impedimento”. Em primeiro lugar, devo dizer que adoro os textos desse brilhante escritor, conhecedor mais profundo da alma ludopédica e, em minha opinião, melhor cronista de futebol do Brasil atualmente. E digo mais do que isso: invariavelmente concordo com suas opiniões que, sempre originais e espirituosas, costumam chocar os nojentos repetidores de chavões, política e idiotamente corretos. Posto isso, fica bem claro que não será por falta de respeito e admiração pelo escritor que afirmarei o seguinte: ao escrever o supracitado texto, Xico definitivamente não estava em plena posse de suas faculdades mentais e cognitivas.

Em segundo lugar, digo que discordarei de Xico e tentarei refutá-lo fazendo uma apologia do impedimento. Mas que fique claro que não será uma apologia no sentido usual e vulgar do termo, a saber, “elogio” ou “louvor”, mas peço que seja considerada a acepção primária da palavra: “defesa”, termo jurídico. Digo isso para que todos saibam que não sinto a menor simpatia pelo meu “cliente”. De fato, a lei do impedimento é realmente confusa, chata, caduca e capaz de enfurecer o mais estóico dos torcedores, se é que há algum torcedor estóico. Contudo, aqui se aplica o velho princípio do “ruim com ele, pior sem ele”: o impedimento é um mal necessário. Explico porque na seqüência.

Xico diz que, com o fim do impedimento, o número de gols aumentaria consideravelmente. Isso é verdade, mas apenas no curto prazo. No primeiro momento, os atacantes iriam deitar e rolar sobre os atônitos beques adversários, que ficariam completamente perdidos, zanzando dionisiacamente pela cancha defensiva. Fazer gols passaria a ser uma tarefa facílima. “Mas então você concorda com o Xico”, alguém dirá. Eu respondo que não e começo dizendo que o aumento do número de gols por si só não pode ser declarado uma vantagem, sem maiores considerações. Ora, tudo que é fácil é bom no começo, mas depois de pouco tempo perde a graça, perde o tesão. Por acaso alguém fica cheio de si ao “conquistar” uma vagabunda qualquer? Ou não seria mais gratificante levar para a cama aquela mulher difícil, que dá fora em todo mundo? Jogos com oito, nove gols são legais de vez em quando para quebrar a rotina, mas se virassem regra, ficariam cansativos. Por acaso alguém gosta de assistir a jogos de handebol? Saem trezentos gols para cada lado e o jogo é chatíssimo. É tanto gol que fica chato. E mais: se esses gols não fossem bonitos (e de fato não seriam, como veremos a seguir), não adiantaria nada aumentar a sua média. Para aumentar o número de gols de canela e de bate-rebate é melhor não aumentar.

E é justamente uma piora na qualidade do futebol jogado e dos gols marcados que o fim do impedimento acarretaria como efeito a longo prazo. Todos sabem que a necessidade é a mãe das invenções. A lei do impedimento cria dificuldades terríveis para os jogadores de ataque e os obriga a desenvolver técnicas sofisticadíssimas no que diz respeito à noção do tempo de bola, aceleração, visão de jogo, força do passe e rapidez de raciocínio. Qualidades que fazem de Zidane, Alex e Riquelme gênios da armação, Careca, Romário e Van Basten gênios da grande área. No entanto, sem o impedimento, nenhuma dessas habilidades seria lapidada naqueles que possuem o dom, tampouco desenvolvidas pelos menos prodigiosos. Qualquer caneludo poderia se transformar em artilheiro, qualquer beque-de-fazenda despontaria como novo Gérson, uma vez que todo chutão para frente serviria de assistência para os atacantes, livres, mandarem para as redes. A magia e a beleza de um passe milimétrico, aquele que deixa o centroavante sozinho e ao mesmo tempo em condições de jogo, desapareceria. A inteligência do atacante que faz que vai, não vai e acaba “vando”, deixando os beques de braços erguidos, clamando por um impedimento inexistente, seria obscurecida pela força bruta dos pernas-de-pau que só sabem trombar nos adversários. Resumindo: os brucutus ganhariam ainda mais terreno e os craques se dissipariam definitivamente na neblina, nas trevas do passado ludopédico. Por isso eu digo que os gols, ainda que aumentassem em número, perderiam em qualidade e beleza.

Mas tudo o que foi dito nos parágrafos anteriores parte de um pressuposto oculto assumido por Xico em sua análise, a saber, de que, mesmo com o fim do impedimento, as defesas continuariam jogando da mesma forma que antes. Eu digo, porém, que isso ocorreria apenas no começo. Não demoraria muito para aparecer um “professor pardal”, de prancheta em mãos, concluindo que a única maneira de impedir que sua equipe, tecnicamente fraca, tomasse uma lavada de um adversário forte seria pôr em prática uma nova estratégia, a única possível para se evitar uma avalanche de gols no novo sistema. No jogo seguinte então, tal gênio revoluciona o futebol, escalando a linha de quatro zagueiros fixa e atrás da própria grande área. Mais três volantes na frente protegendo a zaga e pronto: uma barreira intransponível de sete marcadores impede qualquer trator de romper o ferrolho. Na seqüência, nosso amigo faz escola e, a partir daí, o futebol vira “gol a gol”. Afinal, como é impossível furar o bloqueio, única chance de se anotar um tento é abusar da famosa “ligação direta”. Tome chutão, tome bate-rebate, tome brucutu no ataque. Escanteios e faltas próximas da área passam a valer ouro. De modo que o efeito final seria exatamente o oposto do descrito por Xico: os gols iriam rarear ainda mais. E pior: todo tento, sem exceção, seria fruto de um bololô na área ou de um chute de longe. Jogada trabalhada, tabela, passe de primeira... só em filmes de idos remotos.

Nesse estágio, o football inglês, nosso amado ludopédio, estaria a um passo de se tornar um futebol americano jogado com os pés. Não tardaria para que as equipes fossem divididas em duas: time de ataque e time de defesa. Em pouco tempo os jogadores passariam a atuar dentro de armaduras e capacetes, uma vez que os choques seriam cada vez mais freqüentes. Então só faltaria abolir o goleiro, tirar o travessão e trocar a bola redonda pela oval.

Por essas e outras é que eu sempre dou graças aos deuses ludopédicos pelo fato do futebol ter sido inventado na Inglaterra. O conservadorismo ferrenho dos anciões da International Board é de fato uma benção. Já pensou se fosse no Brasil, com toda essa tara por inventar leis, mudar leis, emendar leis, acabar com leis, recriar leis, não cumprir leis? Após um século e meio de vida, o futebol já teria se transformado em alguma espécie de pólo no gelo, com cavalos de patins e tacos de baseball. No fim, estaria certo o rei inglês daquele vídeo do Bruno: “Pega o cavalo! Aí vai com o cavalo! Corre com o cavalo...”.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Continuando a Afinar a Corneta


Vou seguir a grande sugestão apresentada pelo Bruno: roubar as idéias dos outros na maior cara de pau. Aliás, para quem conhece o mundo da filosofia, essa deve ser uma prática bastante familiar. Assim, na presente cornetada, farei um plágio descarado da fórmula criada pelo próprio Bruno e mudarei apenas o conteúdo, abordando as equipes que não foram analisadas por ele. Devo advertir, porém, que tudo que eu disser aqui e que foi dito pelo Bruno antes pode ir por terra nos próximos dias, uma vez que esse fechamento da maldita “janela européia” não chega nunca e vários Shaktars Donetskis da vida continuam à espreita, prontos para levar embora o pouco que restou dos nossos futebolistas.

Todos sabem que o sistema defensivo e o trio de zaga são os pontos fortes do São Paulo. Falemos então dos problemas: o comando do ataque e os jogadores “vai-vai-vai... não vai”. É impressionante a teimosia do Muricy ao insistir nesse Aloísio, um centroavante que não marca gol, não sabe passar, não sabe dominar a bola, não sabe chutar e nem cabecear (a não ser de ombro). O Diego Tardelli, amordaçado, algemado e com os dois pés amarrados, joga mais do que ele. E aliás, o Tardelli sempre entrou bem nos poucos minutos em que teve oportunidade. Contudo, me parece que ele continua sendo punido pelos erros que cometeu em sua primeira passagem pelo tricolor. Mas, mesmo que o Muricy não goste do Tradelli, ele poderia então colocar o Borges, que não é uma maravilha, mas pelo menos marca uns golzinhos de vez em quando. De qualquer modo, uma coisa é certa: ALOÍSIO NÃO DÁ.

Outro karma dos são-paulinos: aqueles jogadores broxantes, que pegam a bola, fazem o diabo, deixam o torcedor com o grito de gol engatilhado, mas, na hora H... não vai. O pior de todos é o Jadílson: corre, corre, corre e... nada. Esse jogador consegue manter a incrível média de NENHUM passe certo por jogo. Graças a deus ele é reserva, mas sempre acaba entrando quando Muricy precisa de um lateral esquerdo de ofício (e Júnior fica no banco!). Bom, mas não pára por aí: tem também o Souza. Tudo bem, não há outro cara capaz de atuar na ala direita, não tem ninguém melhor do que ele no banco etc, mas que é irritante é: Souza pega a bola, dá um drible espetacular, passa por dois, corre, corre, corre e... nada. Nenhuma jogada é concluída. Por fim, tem ainda o Leandro: corre, pula, gira, vira, tropeça, capota, cai, levanta, planta bananeira, dá cambalhota, se joga na bola, levanta de novo, ginga, dança, canta, batuca, corre, corre, corre e... nada. O Dagoberto, mesmo em péssima fase, joga mais. Resumo da ópera: Tardelli e Dagoberto, a dupla de ataque ideal, nunca jogaram juntos e, a se julgar pela teimosia do técnico, jamais jogarão. Os são-paulinos terão de continuar aturando Leandro e Aloísio e suas caneladas, joelhadas, tornozeladas e chutes que vão parar na bandeira do escanteio. Mesmo com tudo isso, o tricolor é ainda o principal candidato ao título.


O Cruzeiro é o inverso do São Paulo: joga para frente e o ataque é muito bom, em grande parte devido à ofensividade do seu meio campo. Os habilidosos volantes, Charles e Ramires, são na verdade meias que atuam mais recuados. Os meias, Leandro Domingues e Wagner, são verdadeiros atacantes. Por isso, não dá nem para culpar a zaga pela elevadíssima média de gols sofridos, uma vez que ela fica o tempo todo exposta. De qualquer modo, esse estilo de jogo suicida funciona e passou a funcionar ainda melhor com a entrada de Alecsandro, um ótimo ruim-que-faz-gol. Alguém pode dizer que Alecsandro só marca muitos gols justamente porque o time ataca o tempo todo. Não é verdade. Ele marca gols porque sabe marcar gols. Simples assim. Veja o exemplo do São Paulo: embora privilegie a defesa, em alguns jogos, como no último contra o Goiás, o tricolor cria várias oportunidades de gol. O problema é que seus atacantes acertam uma a cada 5983 finalizações. Podem ter certeza do seguinte. Se jogasse no Cruzeiro, o Aloísio não faria gols, como não faz no São Paulo, fossem quantas fossem as oportunidades. Se jogasse no São Paulo, Alecsandro faria muitos gols, como faz no Cruzeiro, mesmo tendo poucas chances. A Raposa é o maior adversário do São Paulo.


Embora seja uma equipe tecnicamente fraca (quem hoje não seria?), o Vasco joga com consciência, justamente porque sabe reconhecer suas limitações. Isso faz dele um time bastante eficiente, principalmente dentro de São Januário, onde empatou uma e venceu todas as demais partidas. O ponto de apoio do time é Perdigão (isso não é uma ironia), jogador que faz mais ou menos a função que Tinga fazia no Internacional e que até pouco tempo Josué exercia no São Paulo: organizar o meio campo e ditar o ritmo do time. Claro, além disso, Perdigão também é mestre no “marca, marca!”, “só cerca”, “abre, abre” e seus afins, o que não deixa de ser mais uma qualidade indispensável. Outras virtudes do time são: o volante argentino Conca e o apoio do ala direito Wagner Diniz. Contudo, a principal arma cruz-maltina é Leandro Amaral. Deixando-se de lado o purismo e considerando-se que o conceito de “craque” é relativo, Leandro é hoje, no contexto atual do futebol brasileiro, um craque. Afinal, ele é muito mais do que um mero ruim-que-faz-gol (me perdoe pelo “mero”, Bruno): ele sabe passar, tabelar e participa da criação das jogadas, além é claro, de fazer gols. Resumindo: faz quase tudo que Aloísio não faz (digo “quase”, pois um jogador que fizesse TUDO que Aloísio não faz seria um gênio maior que Pelé). O Vasco pode até brigar pelo título e deve ficar com uma vaga na Libertadores, a não ser que Romário resolva voltar e/ou que o Shaktar Donetski continue com sua impiedosa espoliação no Brasil.


O time do Grêmio que foi à final da Libertadores já era bem fraquinho. Agora a coisa piorou ainda mais com a saída de Lúcio (isso não é uma ironia) e com a terrível queda de rendimento do Tcheco (“queda de rendimento” nesse caso pode ser entendida como “volta ao estado normal”). E a tendência é que o time piore mais ainda com a saída de Carlos Eduardo, único jogador verdadeiramente talentoso da equipe. Mas o grande problema é aquele mesmo do São Paulo e da maioria dos times: ausência de um ruim-que-faz-gol. Tuta e Marcel, juntos e ainda adicionados a Aloísio, não somam um terço de centrovante. Se conseguir uma vaga na repescagem da Libertadores já estará de ótimo tamanho.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pecados Alvinegros



"Sabe, cada vez mais eu acho que essa história de o botafogo jogar o futebol mais bonito do país é coisa de carência de carioca".
"Não, hmpf, com certeza. Vc acha"...
GOOOL!
"É claro que sempre existe a possibilidade de eu estar errado".

O dialógo acima foi realizado entre eu e meu amigo Wally ontem no começo do jogo Corinthians e Botafogo. Justo quando discutiamos o exagero aos elogios a equipe carioca, o Botafogo emplacou uma triangulação "de quadro negro", perfeita, pelo setor esquerdo da defesa corinthiana e, em menos de 30 segundos, abriu o placar no Maracanã. Logo no começo do jogo, o Corinthians (jogando num 4-4-2) foi obrigado a sair mais para o ataque e sua marcação, que já se mostrara ineficiente na primeira jogada do botafogo, se perdeu completamente e o botafogo teve completo domínio do meio de campo. O Botafogo compensava a falta de um legítimo homem de "cadencia" no meio de campo com uma movimentação constante, toques curtos e triangulações rápidas pelas laterias do campo. Sem dúvida, o Botafogo pode ser considerado o time mais "entrosado" do futebol brasileiro. Já no Corinthians, Gustavo Nery estava completamente omisso. Encarregado de dar o toque de qualidade no meio de campo, o jogador nada fez. Nem armou, nem ajudou na marcação, de forma que Joílson e seus companheiros passavam facilmente em seu setor. Aliás, o único setor do campo pelo qual o Botafogo realmente levava perigo ao alvinegro paulista. Já que o veterano Athirson, sem ritmo e sumido na ala esquerda, deixava o time "penso". Sem toque de bola, as partidas do Corinthians ao ataque se limitavam as carregadas de bola de Rosinei, que eram pouco efetivas, visto que o jogador era obrigado a vir buscar a bola em seu campo de defesa. Era só uma questão de tempo para o segundo gol do Botafogo. E ele veio aos 30 minutos em cobrança de falta de Lúcio Flávio. Falta na qual o Botafogo, que tanto chorou contra as arbitragens (embora, "estranhamente", não tenha nada a reclamar do tribunal esportivo), foi ajudado pelo arbítro que deveria ter marcado o impedimento de André Lima que já havia sido lançado por Jorge Henrique (antes que esse fosse derrubado).
No segundo tempo, o Botafogo voltou a campo com Ricardinho no lugar de Athirson. Agora, contando com um ala esquerdo, o Botafogo pode alargar ainda mais o campo e envolver ainda mais a marcação corinthiana em seu toque de bola. Tamanho foi o envolvimento que Carlos Alberto (completamente tonto) ao tentar recuar uma bola de cabeça para Felipe, acabou lançando André Lima que fez o terceiro gol do alvinegro carioca logo aos 7 minutos do segundo tempo. O restante do jogo foi de domínio pleno do Botafogo. Carpegiani tentou mudar o time com a entrada de Bruno Bonfim e Wilson, mas em nada alteraram o mando do Botafogo sobre o jogo. Contudo, conforme o segundo tempo foi passando, faltou ao Botafogo um pouco de "copismo". O time carioca se negou a tirar a velocidade do jogo ou a se fechar. Contudo, devido a um certo abuso no preciossismo das jogadas, acabou também por não fazer o quarto gol. E, permitiu assim, que, em cruzamento de Wilson, Bruno Bonfim desse sobre-vida ao Corinthians.
Que o Botafogo traz uma boa vantagem para São Paulo (pode perder até de 1 a 0) e é favorito, isso é. Porém, o time carioca, ao pecar pela soberba e pelo preciosismo, deixou de decidir a sua classificação em um jogo no qual foi muito superior a seu adversário. Agora, cabe ao time do Botafogo fazer um jogo inteligente (o que não quer dizer defensivo, muito pelo contrário) em São Paulo. E aos torcedores do Botafogo orar aos deuses ludopédicos para que perdoem o time de seus pecados capitais.

Bruno (que está precisando dormir mais...)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Afinando a Corneta...


Bom, depois de muito tempo, vou assistir a um jogo completo e com atenção e fazer a autópsia do jogo. Mas, enquanto isso vou afinando minha corneta com algumas melodias curtas... (uma espécie de "pre-cornetada" da rodada).
Botafogo: Devo admitir que vi apenas um jogo do Botafogo nesse campeonato brasileiro. Contudo, estou por dentro de todo o "endeusamento" da imprensa (especialmente a carioca) feita ao time da estrela solitária. Embora não tenha observado muito o Botafogo jogar, tenho alguns motivos "a priori" para duvidar dessa classificação de "time do futebol bonito". A primeira delas, obviamente, é que na atual fase pragmática (para ser simpático) do futebol mundial, não é preciso de muito para ser considerado um time que joga bonito. Some-se a isso ao péssimo desempenho dos clubes cariocas nos últimos anos e pronto: têm-se um solo mais do que propício para um exagero midiático. O terceiro motivo, e o mais forte deles, é que o botafogo parece ignorar um axioma fundamental do futebol: "um grande time começa por um grande goleiro". E axiomas podem cobrar um preço muito alto ao serem ignorados. O próprio Botafogo já experimentou isso na copa do Brasil. Esqueça a bandeirinha (faça um esforço!), o que custou ao Botafogo a classificação para a final da Copa do Brasil foi o frangaço de seu goleiro). Se o Botafogo quiser continuar nas primeiras posições da tabela esse ano precisa contratar um goleiro. Urgente. Agora, para continuar na parte superior nos anos posteriores, será preciso contratar um treinador de goleiros. Também urgente!

Corinthians (parte 1): O Corinthians parece finalmente ter encontrado um pouco de equilíbrio no campeonato. Um modelo simples (e perfeito!) para a explicação de tal fato, foi me fornecido pelo colega corneteiro Dênis e eu o roubarei na cara dura. É só se lembrar do que acontece quando vc, já marmanjo, invade, na cara de pau (por culpa de sua Síndrome de Peter Pan), o racha daquele seu irmão/sobrinho/primo e de seus amiguinhos de primário. Lembre-se do olhar que as criancinhas lhe dirigiam e de como você não precisa jogar nem 10% do que elas acreditam (baseadas em seu tamanho e idade) que você joga. Bastava ficar gritando coisas como "só cerca", "calma, calma", "marca lá" e pronto: você era o principal responsável pela vitória do time no qual entrava.
Guardadas as devidas proporções é isso que está acontecendo no Corinthians com a entrada de Vampeta, Ricardinho, Finazzi e Gustavo Nery no time titular. E, convém ressaltar, os quatros estão fazendo muito mais do que só gritar "só cerca", "calma, calma" e "marca lá".

Corinthians (parte 2): Os puristas, os estratégistas e os estetas do futebol que me desculpem, mas o ruim-que-faz-gol e o beque-de-fazenda são fundamentais. Não sei onde Carpegiani estava com a cabeça ao tirar o Finazzi (também conhecido como "o atacante da segunda divisão) do time titular. Atualmente no país, o atacante corinthiano é o mais icônico representante do ruim-que-faz-gol e não pode ser sacado do time. Quer uma prova de que o jogador se encaixa nessa categoria? Basta se lembrar dos melhores momentos do jogo contra o Botafogo. Repare nas chances que Finazzi teve, qual foi a que ele concluiu em gol e qual foi que ele errou... Agora, caso Betão (que é beque-de-fazenda até no nome) retorne contra o Botafogo, o Corinthians, com a defesa mais estável do que a que foi pra Caxias do Sul, tem tudo para complicar o jogo para o time da estrela solitária. Contudo, vai depender, é claro, de quantos (e quais) dos "knockin' on the heaven's door" citados acima terão condições de jogo.

Palmeiras: Na minha opinião, o Palmeiras tem seu melhor time das últimas temporadas e uma chance clara de obter uma vaga na libertadores da América. Contudo, o Palmeiras também sofre de uma certa falta de estabilidade psicológica. Tudo bem que Edmundo pode até tentar cumprir essa função, mas todos nós sabemos que Edmundo não é nenhum modelo de estabilidade... Como o Palmeiras não deve contratar mais ninguém, talvez Caio Júnior consiga encorajar alguém a assumir essa função. Minha aposta: Martinez. Ele parece ter todos os requisitos técnicos não só para cadenciar o jogo, mas também para cadenciar os espíritos de seus companheiros. É um investimento a longo prazo, é claro, mas pode garantir a classificação para a libertadores e, quem sabe, até uma campanha convincente (ou pelo menos "não-vexatória") no torneio continental do ano que vem.

Santos: No que diz respeito ao Santos não tenho muito a dizer. Mesmo com os altos e baixos de Pedrinho e que Pet nunca encontre seu futebol, o retorno de Maldonado dará estabilidade a defesa. Com Kleber no meio ou na lateral, e Kleber Pereira no ataque, o Santos tem tudo para continuar sua jornada de recuperação.

Bruno (que não está vendo o jogo da seleção, que está passando agora, mas espera que algum dos outros membros desse blog esteja...)

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Projeções


Daqui a cinco anos, quando Kaká, aos 29, e Robinho, aos 28, forem os veteranos da Seleção Brasileira, quem serão seus companheiros?

Se der a lógica, Alexandre Pato, que, como profissional, ainda nem mesmo atingiu a marca de trinta partidas disputadas, será a companhia de Robinho lá na frente. Pelo pouquíssimo que se pode ver do novo reforço do Milan, Pato é o mais completo centro-avante que os gramados brasileiros produziram desde Romário. Sim, desde Romário, porque Ronaldo, embora ótimo em quase tudo, cabeceia tão bem quanto eu, ou seja, fechando os olhos e batendo com o topo da cabeça na bola. Em relação a esse fundamento, Pato leva vantagem até mesmo sobre Romário, já que é dez centímetros mais alto que ele e, além disso, pode ficar ainda mais alto, já que só tem 18 anos. Pato tem 1,79m, Romário, 1,69m.

É claro que não é possível garantir que Alexandre Pato não sofrerá os mesmos problemas que Ronaldo: contusões sérias, excesso de peso e vida pessoal conturbada. Mas, enfim, se nada disso acontecer e se der a lógica, Pato será o dono inquestionável da camisa nove na Seleção Brasileira por longos anos.

Mais atrás, armando o time, talvez não haja uma promessa à altura de Alexandre Pato, à altura da segurança que ele passa, embora tão jovem. E isso é preocupante. A falta de bons (nem digo ótimo) meias armadores no futebol mundial é crônica. A meu ver, hoje há apenas quatro bons armadores em atividade: Kaká, Riquelme, Alex e Lampard. Mas nenhum deles está no nível que teve, em sua melhor forma, a geração anterior, representada por ninguém menos que Zidane e Nedved.

Anderson, que agora vai reforçar o Manchester United, tem um longo caminho a percorrer até que merecia, de fato, as comparações que fizerem entre ele e Ronaldinho Gaúcho, quando de sua aparição, em 2004, disputando a segunda divisão do campeonato brasileiro, pelo Grêmio. Contra ele, pesará a forte concorrência por uma vaga no time titular inglês. Jogando pouco, é bem provável que as comparações entre ele e o astro do Barcelona limitem-se à aparência física, característica em que ambos são realmente semelhantes, embora até nisso o mais velho seja mais... Mais feioso.
Nego-me veementemente a falar de Wilian e Lulinha, ambos do Corinthians. Embora já exista um exagerado alvoroço em torno desses jogadores, nenhum deles mostrou, jogando entre os profissionais, a que vieram. Wilian ainda amarela. Lulinha nem sabe a cor da bola. Se não estivessem num time que desmorona política, financeira, moral e futebolisticamente, certamente os dois ainda estariam nas categorias de base, tendo lições sobre como fazer a barba – que ainda virão a ter.

A única unanimidade para a vaga de volante é Lucas, ex Grêmio e agora no Liverpool. Hernanes, do São Paulo, Denílson, do Arsenal, e Marcelo Matos, em algum lugar da galáxia, devem brigar entre si para acompanhar o loirinho. Mas se Dunga continuar sendo técnico do Brasil daqui a cinco anos, é até possível que os quatro joguem juntos. Quanto aos três últimos, nenhum é ótimo. Hernanes, por exemplo, embora seja um jogador extremamente versátil e tenha uma boa técnica, não tem na marcação o seu ponto forte. Como no São Paulo ele costuma jogar acompanhado de Josué, esse problema se ameniza. Marcelo Matos criou muito frenesi quando surgiu. Mas, depois, mostrou ser apenas o razoável volante de uma equipe medíocre. Denílson pouco jogou tanto no São Paulo quanto no Arsenal. Mas é justamente sua precoce saída do Brasil para um dos maiores times europeus que o credenciam a constar na lista de prováveis futuros selecionáveis. Além desses quatro, tem chamado atenção o jogador Wendel, do Palmeiras – o Palmeiras é aquele time que usa um uniforme verde. É versátil e tem boa técnica, mas ainda é cedo demais para dizer qualquer coisa sobre seu futuro.

Nas alas, ou laterais (não farei distinção aqui), Ilsinho, ex Palmeiras e São Paulo, mas agora na Ucrânia, deverá, se retomar o ótimo futebol que mostrou nos primeiros meses de São Paulo, com muita técnica e agressividade, o jogador que colocará Cafu, em definitivo, no baú do esquecimento. Pela esquerda, pelo mesmo motivo que relacionei o volante Denílson, relaciono Marcelo, do Real Madrid, mas confesso que não o conheço. Sem a concorrência de Roberto Carlos, é bem provável que o brasileiro, se for realmente bom, firme-se como titular da lateral esquerda do time madrileno. O jeito é aguardar e torcer para que ele seja realmente bom, já que o futebol brasileiro está, de uns tempos para cá, produzindo pouquíssimos laterais esquerdos de qualidade. Para se ter um exemplo, Adriano, o bom lateral esquerdo do Sevilha, é destro, e não canhoto, como seria o ideal.

Na zaga, o jovem trio de zaga atual do São Paulo surge com muita força. Miranda, Breno e Alex Silva, embora bastante jovens, demonstram ser ótimos zagueiros. Todos têm boa técnica, força, impulsão para cabeceio, noção de posicionamento, tempo de bola e porte físico. Nisto, Alex Silva leva ligeira vantagem sobre seus concorrentes, já que tem 1,92m. Os outros dois, contudo, não ficam muito atrás: Miranda tem 1,85m e Breno, 1,87m. Dos três, talvez o mais fraco, no sentido geral do termo, seja justamente Alex Silva, que, com suas saídas estabanadas em direção ao ataque, mais lembra uma mistura entre Lúcio e Peter Crouch do que ajuda seu time. Quando se der conta de que não é Messi, muito menos Maradona, Alex Silva será quase perfeito. Além desses três, Teco, do Grêmio, e David, do Palmeiras, também dão sinais de serem bons zagueiros. É esperar para ver se são de fato.

No gol por enquanto não surgiu nenhum nome à altura dos ótimos Dida, Marcos e Rogério Ceni. Felipe, no Corinthians, Bruno, no Flamengo, e Diego, no Palmeiras, andam a fazer um bom trabalho. Vez ou outra, contudo, engolem um frango, saem mal na bola cruzada ou se atrapalham em jogadas simples. Mas que goleiro não toma um frango de vez em quando ou comete outra bobagem qualquer? São karmas da posição. Até mesmo o ótimo Tafarel, herói nas copas de 1994 e 1998, engoliu um belo frango na derrota do Brasil para a Bolívia por dois a zero nas eliminatórias para a copa de 1994. Comparados a Ceni, nenhum deles, assim como nenhum outro goleiro no mundo, passa a segurança do arqueiro são-paulino jogando com os pés. Enfim, daqueles três, elejo Felipe como o mais provável futuro goleiro do Brasil. Vale lembrar que ele vem da mesma escola do Dida, o Vitória, e isso é ótimo sinal. De uma coisa não há dúvida, todos são infinitamente melhores do que Doni.

Se todos esses jogadores confirmarem as boas expectativas que têm criado, daqui a cindo anos a seleção brasileira deverá ter a sua disposição um ótimo time. Kaká e Robinho deverão estar muito bem acompanhados. Mas nós, torcedores, não devemos nos empolgar, pois será preciso esperar pela Copa do Mundo do Brasil para poder vê-los desfilar novamente em terras tupiniquins.

Denis Barbosa Cacique, que, se não se recorda mal, viu sua partida mais recente no dia em que o Brasil ganhou da Argentina, na final da Copa América – 13 de agosto de 2007

sábado, 4 de agosto de 2007

Vídeos Básicos: Invenção do Futebol e Abertura Fifa 06

Mais uma cornetada cultural, agora de vídeos na Internet.

Há muito tempo atrás na Inglaterra, uma terrível praga caira sobre os cavalos. O enorme morticínio de tais animais impossibilitou a realização dos torneios de justa. Sem diversão, o povo estava prestes a se revoltar...

Vídeo já clássico sobre a versão dos comediantes dos "Melhores do Mundo" sobre a invenção do futebol. Tem que constar na ata:



O segundo vídeo é a abertura do Fifa 06. Simplesmente sensacional. Ao invés de fazer um preview com as imagens do jogo, a EA resolveu produzir uma verdadeira declaração de amor ao futebol. Uma pena que essa abordagem tenha sido abandonada em nome de uma mais tradicional no Fifa 07. Como não consegui encontrar uma versão legendada em português, coloca uma tradução do texto abaixo do vídeo...



Jogo após jogo após jogo. Percebo agora o que é mais importante em minha vida: Futebol. Mostre-me algo mais emocionante que um voleio perfeito. Diga-me que nunca sonhou com um chute perfeito. Em ser parte de um momento em que toda uma nação prende o folego. Diga-me que o futebol não é nossa única linguagem comum, quando o planeta todo para por noventa minutos para testemunhar a única coisa que todos nós compreendemos. Sim, você pode me dizer que eu estou errado. Pode me dizer que isso é só um jogo, mas isso diz respeito a heróis e tribos, lealdade e devoção. É nosso compromisso e nossa paixão. Nossa batalha e nossa crença... Essa é a nossa fé. Agora, ouça a agitação da multidão, ouça o clamor dos fiéis. Você é Ronaldinho. Você é Wayne Rooney. Este é o jogo bonito. Este é o seu momento.

Bruno (no aguardo do Fifa 08...)

Febre de Bola



Ontem, assisti ao jogo do São Paulo em um bar. Um bar é um excelente lugar para se assistir a um jogo do seu time especialmente se o dono do bar é um torcedor do seu time. Contudo, é um péssimo lugar para se assistir a um jogo pela autópsia. Isso se deve, obviamente, a quantidade de ruído, conversas, cornetagens e desatenção e não a quantidade de álcool ingerida. Caso contrário, não conseguiria escrever autópsia de jogo algum...

Então, alterei radicalmente o meu projeto de texto e vou fazer uma pequena indicação literária:

A coisa está lá dentro o tempo todo, procurando um jeito de sair.

Acordo por volta de 10 horas, faço duas xícaras de chá, trago-as para o quarto e coloco uma de cada lado da cama. Ficamos bebericando pensativamente; logo depois de acordar há uns intervalos longos e sonhadores entre nossos comentários ocasionais – sobre a chuva lá fora, sobre a noite anterior, sobre fumar no quarto e minha promessa de parar de fazer isso. Ela pergunta o que vou fazer essa semana, e eu penso: 1) Vou me encontrar com Matthew na quarta-feira. 2) Matthew ainda está com o meu vídeo de Os campeões. 3 [Ao me lembrar de que Matthew, um torcedor puramente nominal do Arsenal, não vai a Highbury há dois anos e por isso não pôde observar as aquisições mais recentes em carne e osso.] Eu fico imaginando o que ele achou de Anders Limpar.

E em três estágios simples, 15 ou 20 minutos depois de acordar, já começo a viajar. Vejo Limpar correndo em direção a Gillespie, desviando para a direita e caindo: PÊNALTI! DIXON MARCA! 2 a 0! ... O toque de calcanhar de Merson e o chute de pé direito de Smith entrando no canto oposto, ainda na mesma partida... Merson dando um pequeno empurrão na bola e desviando-a de Grobbelaar, lá em Anfield... O giro e a bomba de Davis contra o Villa... (E isso, lembrem-se, é uma manhã de julho, nosso mês de folga, quando os clubes de futebol estão de férias.) Ás vezes, quando deixo que este estado sonhador tome conta de mim completamente, vou recuando cada vez mais, passando por Anfield em 1989, Wembley em 1987, Stamford Bridge em 1978, com toda a minha vida futebolística passando num clarão diante dos meus olhos.

-No que você está pensando? – pergunta ela.

A essa altura eu minto. Não estava pensando nem um pouco em Martin Amis, em Gerard Depardieu ou no Partido Trabalhista. Mas é que nós, obsessivos, não temos escolha; temos de mentir em ocasiões como essa. Se disséssemos a verdade todas as vezes, seríamos incapazes de manter um relacionamento com qualquer pessoa do mundo real. Apodreceríamos sozinhos com nossos programas do Arsenal, nossas coleções de discos de rótulo azul originais da Stax ou nossos spaniels Rei Charles, enquanto nossos devaneios de dois minutos se alongavam; aí perderíamos nossos empregos e pararíamos de tomar banho, fazer a barba e comer; acabaríamos deitados no chão em meio à nossa própria imundície, voltando a fita sem parar na tentativa de decorar todos os comentários, inclusive a análise profissional de David Pleat, sobre a noite de 26 de maio de 1989. (Vocês acham que eu tive de verificar essa data? Ah!) A verdade é a seguinte: durante trechos alarmantemente grandes de um dia normal, sou um retardado.

Poucas pessoas entendem mais sobre a alma masculina e suas obsessões que Nick Hornby. Esse foi o único livro de sua trilogia masculina (Febre de Bola, Alta Fidelidade e Um Grande Garoto) que li. Infelizmente, dos outros pude conferir apenas as adaptações cinematográficas. Mas, isso já foi mais do que suficiente para me identificar e para reconhecer o incrível conhecimento de Hornby sobre a alma masculina.

Neste livro, Hornby decidiu contar a história da sua vida por meio dos jogos do Arsenal. Usando os jogos de seu time do coração como um gancho para sua memória, Hornby nos conta sobre seu complicado relacionamento com o pai, sobre seus amores, sobre sua ida a faculdade, seus empregos, etc. Tal estratégia narrativa funciona muito bem justamente por não ser uma estratégia narrativa, como admite, não sem um pouco de vergonha, o fanático “Gunner”: é assim que sua memória funciona!

Febre de bola não é um livro científico, nem jornalístico. Não é um estudo sobre ser um torcedor. É simplesmente a historia de um torcedor contada para outros torcedores. E isso o torna único. Não apenas para nos identificarmos com o livro, mas também para percebemos o incrível poder do futebol de igualar e unir na mesma paixão os calorosos brasileiros e os fleumáticos ingleses. Ou seja, no fundo torcedor é torcedor. Só muda o time.

Uma sugestão final: após ler o livro, indique-o à sua mulher. Talvez assim, ela finalmente entenda como você se sente quando ela interrompe o jogo de seu time do coração para mandá-lo lavar a louça ou discutir a relação...


P.S: Justiça seja feita. Nem todas as mulheres são assim. Juliana, minha namorada, entende a magia do esporte bretão. E foi ela quem me deu Febre de bola de presente. Com o objetivo de, nas palavras dela, “unir minhas duas paixões: leitura e futebol”. No que ela se enganou, pois, ao fazê-lo, estava unindo minhas três paixões...


Bruno (que tem sua vida atrapalhada não só pelo futebol. Mas também, pelos quadrinhos, filmes, seriados, livros e RPG...)

domingo, 29 de julho de 2007

Full House


Após os retumbantes fracassos dos galácticos no Real Madrid e do quarteto trágico da seleção na Copa do Mundo, uma conclusão que sempre fora óbvia para quem entende de futebol passou a ser um consenso geral: não é possível montar um time baseado apenas em grandes jogadores de ataque, sem que se tenha alguém (ou alguns) para fazer o “trabalho sujo” lá atrás. O Real aprendeu a lição: livrou-se de todos seus “craques” trintões e passou a contratar jogadores jovens e não tão famosos (Robinho, Marcelo, Gago, Higuain), conforme a carência de cada posição, e até alguns brucutus (Emerson e Diarra). Na seleção, Dunga instaurou a República dos Volantes e foi campeão. Chelsea, Liverpool e Milan consagram a cada temporada que passa o futebol de resultados, com elencos de trabalhadores, sem grandes celebridades.

Contudo, o Barcelona parece estar caminhando na contramão. Justamente o Barcelona, que nas últimas temporadas deu uma aula de como se contrata. De fato, o clube catalão mostrou que vale mais a pena comprar jogadores não tão valorizados no mercado e transformá-los em estrelas dentro de casa, ao invés de comprar estrelas prontas e caras (quem eram Ronaldinho, Deco, Eto’o e Messi antes de chegarem ao Barça?). Entretanto, a recente contratação de Thierry Henry parece sinalizar para a adoção de uma nova política. Nada contra Henry, muito pelo contrário: considero-o um dos melhores jogadores deste século. Mas a pergunta que surge é a seguinte: será que o Barcelona precisava de mais um atacante?

Precisasse ou não, o fato é que Frank Rijkaard terá um quarteto, ou melhor, um quinteto ofensivo à sua disposição: três jogadores com características de camisa dez (Deco, Ronaldinho e Messi) e dois noves (Eto’o e Henry). Agora, a pergunta passa a ser: como será possível escalar todos juntos? Ou melhor, há uma pergunta ainda anterior a essa: será possível escalar todos juntos? Se Rijkaard seguir o princípio parreiriano de fazer qualquer coisa para acomodar todos os craques em campo (e que se dane o esquema), o Barça terá mais ou menos a seguinte formação:


Essa escalação é um absoluto suicídio tático. Mesmo que se substitua Xavi por um cabeça-de-área de ofício (Yaya Touré ou até o brucutu Edmílson), esse coitado terá, sozinho, a incumbência de cobrir os dois laterais, proteger a zaga e ainda dar o primeiro combate no meio. Deco até pode dar uma ajudazinha, mas ainda assim seria muito pouco. O fato é que nenhum dos quatro da frente participará da marcação, pois isso é totalmente contrário às suas características. A defesa ficará mais vulnerável do que já foi nessa última temporada e o pobre Thuram, com 35 carnavais nas costas, e o maluco Puyol, com sua cabeleira de Maria Betânia, ficarão toda hora no mano a mano com os atacantes adversários.

Não é preciso nem dizer mais nada. É óbvio que um deles terá de sair,... mas quem? Ronaldinho, a estrela maior? Claro que não. Eto’o, o artilheiro? Incogitável. Messi, melhor do time na temporada passada? Nem pensar. Henry, a nova contratação? De jeito nenhum. Sobraria, evidentemente, para Deco. Entretanto, mesmo com a entrada de mais um volante no lugar do luso-brasileiro, o problema tático não seria resolvido.




Futebolisticamente, embora eu não seja um nazista (defensor dos quatro volantes ou de suas variações), estou ainda mais distante da extrema esquerda (partidários do joga-e-deixa-jogar). Sou, digamos, de centro-direita. Assim sendo, também não posso ficar satisfeito com a formação acima. Repito: os quatro da frente nunca na vida conjugaram o verbo “marcar” e os dois volantes teriam de carregar o piano sozinhos.

A única saída para que a defesa não ficasse exposta seria ordenar que Zambrotta e Abidal jamais passassem do meio campo e formassem com os dois beques uma linha de quatro zagueiros, literalmente. Assim, mesmo quando fosse contra-atacado, o Barcelona se defenderia com no mínimo cinco jogadores. Isso não seria nenhum sacrifício para esses laterais, uma vez que eles são essencialmente marcadores. Contudo, os efeitos colaterais atingiriam justamente o ataque. Com efeito, Ronaldinho é, nesse esquema, um meia centralizado; Eto’o e Henry são atacantes que gostam de jogar no meio dos zagueiros, perto do gol; e Messi, sempre que pega a bola nos lados do campo, parte em diagonal rumo à meia-lua, nunca verticalmente em direção à ponta. Resumindo: o time ficaria todo embolado pelo meio. E não adiantaria alguém cair pela ponta, pois os laterais teriam receio de subir para apoiar o ataque. E mesmo revezando a subida dos laterais (princípio básico do futebol), ficaria um flanco aberto para o contra ataque, sempre que um dos volantes estivesse na frente. Quantos gols o Barça já não tomou com o Van Bronckhorst ou o Belletti tentando desesperadamente, junto com os dois zagueiros, salvar a pátria lá atrás, só os três contra a rapa? (lembra do gol do Adriano Gabiru? Lembra do gol do Riise, do Liverpool?).

Há ainda outra opção tática para escalar esses mesmos jogadores, embora, na minha modestíssima opinião, ela também seja inviável. Para dar certo, seria preciso transformar Eto’o e Messi em pontas que atacam e defendem e repetir assim o esquema da França na última Copa do Mundo:


Essa formação é, na teoria, ultra-ofensiva: um armador que não marca (Zidane), dois atacantes pelas pontas (Malouda e Ribery) e o centroavante. Na prática, todavia, Raymond Domenech armou um verdadeiro ferrolho. Isso ocorreu porque os dois pontas, sendo muito velozes e donos de um extraordinário preparo físico, eram capazes de compor o meio campo toda vez que a França era atacada. Com isso, formavam com Vieira e Makelele uma linha de quatro no meio. Sim, quando atacada, a França se defendia com as famigeradas duas linhas de quatro. Quando o time retomava a bola, porém, Malouda e Ribery se mandavam para frente, para auxiliar Henry no ataque. Resultado: a defesa era fortíssima e o contra-ataque perigoso.

Contudo, quando pintamos esse mesmo quadro com as cores azul e grená, as peças não se encaixam. Henry é Henry e Ronaldinho faria a função de Zidane. Até aí tudo bem. Mas e os pontas? Eto’o e Messi são atacantes natos, muito técnicos, que jogam para frente, buscando o gol a todo instante. Muito improvável, para não dizer impossível, que Rijkaard conseguisse ensinar os dois a cumprir a função tática (defensiva) dos pontas franceses.

Se Eto’o for vendido para o Milan nos próximos dias, o que é muito improvável, o esquema continua o mesmo dos anos anteriores: um cabeça-de-área fixo (Yaya ou Edmílson), dois meias-volantes pelos lados (Xavi e Deco), Ronaldinho na esquerda, Messi na direita e Henry de centroavante. Caso contrário, haverá um grande problema.

Acho que Rijkaard terá de continuar apostando com sua trinca e deixar a quadra e o “full house” apenas para situações emergenciais ou para jogos muito fáceis*. Posso estar errado, mas se tudo que eu disse for bobagem, pelo menos estarei bem acompanhado: “São quatro jogadores para três posições”. Palavras de Johan Cruyff. De qualquer modo, tenho certeza de que Rijkaard, um esquerdista incorrigível, cairá na tentação de escalar todos juntos. Como ele fará isso? Não perguntem para mim... nem para Cruyff.

*Em alguns (poucos) jogos da última temporada, o Manchester United entrou em campo com dois volantes (Carrick e Scholes – esse último era o armador e avançava muito), dois meias ofensivos pelos lados (Cristiano Ronaldo e Giggs) e mais dois atacantes (Rooney e mais um – Saha, Solskjaer ou Larsson). Contudo, Alex Ferguson só teve a ousadia de escalar essa equipe contra times pequenos no Campeonato Inglês. Contra os grandes e na Champions League, ele sacou um dos atacantes (Saha, Solskjaer ou Larsson) e colocou mais um volante.