sexta-feira, 29 de junho de 2007

Um time que joga como time e um gol que o Brasil não faz


Depois da pífia copa do ano passado, eu havia prometido a mim mesmo que não assistiria nem comentaria mais jogos de seleções. Promessa vã. Bastou começar a Copa América e lá estava eu acompanhando atentamente as pelejas. Ontem, comecei a ver Argentina x EUA a partir da metade do primeiro tempo (pois antes, eu me maravilhava com as belíssimas jogadas de Aloísio, Edcarlos, Richarlysson e companhia, na espetacular pelada entre Figueirense e São Paulo, que não por acaso terminou com um exuberante 0x0). Esqueçam isso... e vamos para a Argentina.

Os portenhos saíram perdendo, mas reagiram logo em seguida com um gol de Crespo (aliás, um gol puramente crespiano). A partir daí, o domínio argentino foi absoluto, embora eles não conseguissem criar muitas chances de gol. De qualquer modo, percebia-se nitidamente que Riquelme, Verón, Cambiasso e Mascherano dominavam o meio campo e a única coisa que faltava era um pouco mais de incisão na chegada ao ataque. Incisão que apareceu no segundo tempo junto com Messi, que saiu das trevas e deixou Crespo de frente para o crime. O artilheiro aproveitou e marcou mais um gol típico dos grandes ruins-que-fazem-gol. Em seguida, veio o terceiro gol, uma obra de arte: jogada de pura técnica de uma equipe que prima pela coletividade. Depois, Riquelme ainda deu um presente para Tévez definir os 4x1. Mas é naquele terceiro gol que eu irei me deter um pouco mais.

Ao longo do jogo, eu ficava pensando em uma coisa que acabou por ser corroborada por esse terceiro gol. Cheguei, de fato, à seguinte conclusão: a Argentina joga como um time. Uma observação que parece óbvia e idiota, mas que na verdade não o é, considerando-se uma outra que me ocorrera já antes desse jogo começar: eu nunca vi a seleção brasileira jogar como um time. E não vou nem falar sobre a seleção da CBF e do fantoche Dunga. Falo de todas as seleções brasileiras dos últimos dezessete ou dezoito anos.

A última que jogou de forma convincente foi aquela da copa de 1994. Com efeito, o time de Parreira, embora fosse um horror de se ver, efetivamente jogava como uma equipe. E isso é importante para explicitar o que eu quero dizer aqui: jogar bem, na minha concepção, não é dar espetáculo, resgatar o futebol arte etc. Jogar bem é ter um esquema tático definido que faça com que os jogares atuem no limite da sua capacidade individual e coletiva. Isso é “jogar como um time”, o que, por sua vez, é um sinônimo de “jogar bem”. E é exatamente isso que a Argentina realiza sempre e o Brasil nunca.

O Brasil, desde que eu comecei a ver futebol, ganha jogos na base da marra e/ou da individualidade de algum craque que, de vez em quando, tem lampejos geniais. E isso inclui a tão louvada seleção de Felipão de 2002. Na minha opinião, aquele time de bem montado não tinha nada. O Brasil foi seguindo em frente graças a muita dedicação, ajudas de arbitragem (ah, o gol anulado de Wilmots, da Bélgica) e, principalmente, graças a uma sorte sobrenatural. Foi passando por adversários péssimos e acabou ganhando aquela copa medíocre (não se esqueçam que a pior Alemanha de todos os tempos chegou à final, a Turquia ficou em terceiro e a Coréia em quarto).

Depois daquela Copa, a coisa ficou ainda pior. O time de Felipão, bem ou mal, conseguia pelo menos se impor e ganhar os jogos. De lá para cá, nem isso. Hoje, qualquer um ganha do Brasil: basta ter um time que saiba congestionar o meio de campo, armar contra-ataques razoáveis e que tenha um bom cabeceador para as bolas levantadas (sorte que o Borghetti não veio).

Mas vamos voltar àquela história de jogar como time. A incompetência das seleções brasileiras recentes em mostrar um futebol minimamente coletivo reflete-se nos próprios gols que o Brasil costuma marcar. Os tentos são sempre frutos de jogadas individuais, bobagens da defesa adversária e bolas paradas. O único gol coletivamente belo de que eu me lembro foi aquele dos 4x1 sobre a própria Argentina, na Copa das Confederações: um oásis em um deserto de mediocridade.

Falando em Argentina, voltemos a ela. Tudo bem, o time americano é muito frágil, veio desfalcado etc, etc. E a Argentina, apesar da goleada, nem de longe apresentou um futebol exuberante. Mas acontece que o Brasil também já enfrentou adversários muito piores do que o time dos EUA e nunca jogou absolutamente nada. Os portenhos, pelo contrário, podem até perder o campeonato, mas sempre apresentam um futebol que ao menos deixa seus torcedores com o consolo de que a seleção fez o melhor que podia. E o melhor que eles podem fazer, e efetivamente fazem, é jogar como equipe. Aquele terceiro gol mostrou muito bem isso: a bola partiu da defesa e foi passando de pé em pé até chegar a Verón. Este, mostrando-se ainda um excelente “knocking on heaven’s door”, abriu na esquerda para Crespo, que tocou na ultrapassagem para Heinze. O lateral cruzou e Aimar veio de trás para dar uma cabeçada fulminante e colocar nas redes. Esse foi, por excelência, um “gol de time” . E não foi um oásis no deserto, uma vez que sempre vemos os hermanos anotarem esse tipo de tento. Quando a bola balançou as redes, eu até me levantei do sofá, quase que comemorando, numa espécie de reconhecimento (e com uma pequena dose de inveja) a um time que joga como time e a um gol que o Brasil não faz.

César Eduardo Zambon escreveu aqui seu primeiro texto sério desde que começou a postar nesse blog.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Seleção renovada, problemas renovados

Desde que eu me lembre (o gol de Caniggia em 90 é minha lembrança mais antiga da seleção), minha maior preocupação como torcedor da seleção brasileira é a defesa. Não havia porque se preocupar com o ataque, afinal, ele sempre foi técnico, talentoso, veloz, surpreendente, genial, fascinante... , mas a defesa... sempre me fez roer as unhas. A qualquer momento os zagueiros podiam bater cabeça, se posicionarem mal e, principalmente, ficarem pregados no chão em uma bola alçada na área. Agora, imagine a estranheza que tomou conta de mim na última Copa do Mundo. Os heróis da seleção não foram os atacantes (e meia-atacantes) que compunham o fabuloso quadrado mágico e sim o miolo de zaga: Lúcio (aquele que quase nos entregou em 2002 pra Inglaterra) e Juan (além é claro, do Zé Roberto). A coisa fica ainda mais estranha quando Dunga, que nunca havia treinado time algum, assume o comando da seleção. A escolha da CBF, embora polêmica, possui certa racionalidade. Atribuindo o fracasso da copa à falta de vontade, os cartolas escolheram um ex-jogador que pudesse simbolizar essa qualidade. Não havia escolha mais adequada que Dunga. O novo técnico, por sua vez, parece ter atribuído o fracasso na última copa a falta de apoio ao setor defensivo. Dunga demonstra isso na escolhas dos laterais: preferindo a força física e o alto poder de marcação (Maicon e Gilberto) à precisão nos cruzamentos e apoio ao ataque (Kleber e Daniel Alves). Além disso, Dunga joga com dois cabeças de área de ofício, Gilberto Silva e Mineiro, porém, dá a impressão de ter pedido ao último que maneire em suas aparições como elemento surpresa. Tudo isso visando aumentar a solidez do sistema defensivo brasileiro.

Contudo, foi essa dedicação à marcação que condenou o time brasileiro. No início do primeiro tempo, o México permitia uma fácil saída de bola da seleção brasileira, apertando a marcação apenas na intermediária. Porém, com o excesso de zelo dos laterais e dos volantes, Diego era obrigado a buscar a bola no campo de defesa. Com Robinho e Wagner Love fortemente marcados, Elano isolado na direita (mal tocou na bola), os volantes e os laterais impedidos de subirem, Diego logo ficava sem opções. E, assim, o Brasil mesmo com domínio territorial, não conseguia criar chances reais de gol (com exceção do gol anulado, mas repare que tal lance surgiu de uma das raras subidas de um dos laterais, no caso, Maicon). Aos poucos, o México foi ganhando terreno no meio campo, até que Castillo, calculando bem a saída do zagueiro Alex, recebeu ótimo lançamento, chapelou Maicon (um pouco atrasado na cobertura) e tocou para o gol antes que Doni pudesse dividir com ele. Golaço!

Poucos minutos depois, Diego, na intermediária da seleção brasileira (vindo buscar a bola cada vez mais atrás), perdeu a bola e fez falta. A cobrança foi boa, porém Doni optou por um golpe de vista que flertava em excesso com o descaso: 2 a 0 México. O segundo gol transformou a covardia brasileira em entrega.

Dunga voltou para segunda etapa com Afonso e Anderson no lugar de Diego e Elano. Sem Diego (e com dois atacantes de área), coube a Robinho e a Anderson (formando uma diagonal, um com o outro) dar movimentação e municiar o ataque brasileiro. Com sua velocidade e seus dribles, Robinho assumiu a responsabilidade e não só conduziu a bola ao ataque como apareceu na área para cabecear, chutou de longe, chutou sem ângulo...

Anderson, com muita movimentação e bons passes, garantiu, depois de Robinho, o posto de melhor brasileiro na partida. Os laterais passaram a subir mais e cada cruzamento foi desesperador para a zaga mexicana (tão boa em jogadas pelo alto quanto uma zaga de pebolim...). Contudo, nem mesmo com a melhora na disposição o Brasil conseguiu fazer gols. O time apático do primeiro tempo se transformara em uma equipe desorganizada. Com o andar do relógio e o aumento do desespero, os erros de posicionamento começaram a aparecer mesmo entre os melhores em campo e o Brasil ficou completamente exposto aos contra ataques. A goleada só não saiu devido à incompetência dos mexicanos que insistiam em não tocar a bola rapidamente para evitar que seus atacantes entrassem em posição de impedimento...para complementar, no fim do jogo, Castillo, o mesmo do golaço, conseguiu perder um gol incrível.

Assistindo a esse jogo, cheguei a conclusão que é impossível negar que a renovação de Dunga já foi bem sucedida em pelo menos um aspecto: a minha preocupação com a seleção. Agora, é o ataque que me faz roer as unhas.

Brunão
(que passou a roer as unhas por não ter mais cabelos para arrancar...)

terça-feira, 26 de junho de 2007

Socorro! O Pan está chegando. Levem-me para Pasárgada!


Socorro! Está chegando o momento mais terrível do ano para os amantes fiéis do esporte mais popular do mundo. Estamos às portas do Pan-americano. Estamos às portas do triste mês em que nosso amado ludopédio será chutado para escanteio e abandonado à desonrante condição de coisa secundária pela grande mídia. Tudo bem, isso irá durar menos do que trinta dias, mas, mesmo assim, os efeitos serão trágicos. Já estão sendo. De fato, o pior de tudo é que desta vez o Pan será realizado no Brasil e, com isso, a cobertura midiática será massiva... meu Deus! O desastre é sem precedente: não há Olimpíada ou visita do Papa que se compare.

Antes de mais nada, já vou logo dizendo que eu não teria absolutamente nada contra o Pan-americano, contanto que ele ficasse quietinho no seu canto, enquadrado nas proporções reais da sua irrisória magnitude e, principalmente, sem atrapalhar coisas mais importantes. Todavia, o que está acontecendo é justamente o oposto. Jogos do Brasileirão estão sendo adiados sem dó e o prejuízo ao certame já foi consumado.

Este problema dos adiamentos prejudica diretamente os clubes. Equipes que vivem bons momentos, como Botafogo e Corinthians, tiveram jogos adiados para um longínquo outubro: sabe-se lá qual será a situação de seus elencos em tal momento. Ah, claro, algum comentarista oficial, daqueles politicamente corretos, irá objetar: “Mas foi só agora que descobriram que tem Pan? Além do mais, temos de dar espaço para os outros esportes, blá, blá, blá...”. Eu respondo: meu filho, não interessa quando descobriram, se foi agora, há um ano ou há três anos: os jogos seriam adiados do mesmo jeito, ou, mesmo que não fossem adiados, seriam transferidos de local e ainda teríamos um sério problema.

Afinal, a principal vantagem do sistema de pontos corridos é que ele coloca todos os times em igualdade de condições: dezenove jogos em casa, dezenove fora. Com a transferência, porém, Botafogo x Corinthians teria que acontecer em alguma Volta Redonda ou Juiz de Fora da vida. E não adianta: ninguém vai me convencer que Volta Redonda é a casa do Botafogo ou de qualquer outro dos grandes cariocas. Já não bastam os anos anteriores? Em 2005 e parte de 2006, três deles (o Vasco foi exceção porque tem São Januário) tiveram de realizar seus jogos no interior fluminense, por causa da... reforma no Maracanã, que foi feita por causa do... Pan! E o clássico dos milhões, Flamengo x Vasco? Onde ele seria disputado? Aracaju ou Natal, provavelmente (aliás, transferir clássicos para o Nordeste é um expediente lamentável, que já foi utilizado várias vezes, com o intuito de aumentar as rendas). Agora, que me desculpem, mas um Flamengo x Vasco fora do Maracanã não é um Flamengo x Vasco.

E o pior é que todo esse problema está sendo criado não apenas por causa dos Jogos Pan-americanos em si, mas também e principalmente por causa do tal show de abertura. Um palhaço não sei de onde virá para cá fazer mais uma daquelas apresentações chatíssimas, com coreografias manjadas e monótonas: um bando de patetas vestidos de bandeira dançando para lá e para cá. E, por causa disso, o Maracanã tem que ser fechado e o Brasileirão melado. O espírito de Mario Filho deve estar chorando em algum canto do céu ludopédico e nem mesmo Nélson Rodrigues será capaz de consolá-lo.

O pior é que depois da abertura vêm os jogos propriamente ditos. Sinceramente, não sei por que tanto escândalo diante de uma competiçãozinha mixuruca que não serve para absolutamente nada. Sou até obrigado a trazer de volta à tona a nefasta figura do finado Roque Citadini (ou será que ele ainda está vivo?), ex-dirigente corintiano, que, embora especialista em dizer asneiras, certa vez nos presenteou com a seguinte pérola: “Pan-americano é uma espécie de Jogos Abertos do Interior que tem uns gaiatos falando espanhol”. Impossível não concordar com ele. Com efeito, não consigo ver nenhum atrativo especial em uma porcaria de competição, desprezada por todos os países e que até a República Dominicana foi capaz de “organizar”.

Mas o pior (acho que eu já disse “mas o pior” umas dez vezes) é que o prejuízo não se restringe aos clubes, mas afeta também o torcedor. Já estamos conhecendo aquela sensação desagradável de olhar para a tabela e ver que a maioria dos times disputou sete jogos, outros seis, alguns poucos oito etc. E isso ficará ainda pior daqui para frente. Será impossível saber quem é o líder de verdade, o vice, quem está na Libertadores, quem está sendo rebaixado...

Isso sem falar no sofrimento que a TV nos causará. Além das mesas redondas e noticiários esportivos, que ficarão infestados pelas baboseiras do Pan, até as próprias transmissões dos jogos do Brasileirão serão maculadas. Que inferno! Você está lá, tranqüilo, assistindo a uma disputada peleja, quando, de repente, surge no canto da tela aquela maldita janelinha. Em seguida, um miserável de um repórter interrompe o narrador e começa a vociferar histericamente: “Estamos aqui ao vivo com a final dos 800 metros do Nado Pintassilgo!”. E o jogo lá, a toda: bola na trave, expulsão, pênalti, gol... e o lazarento do repórter não pára de falar do Nado Pintassilgo! Mas o pior (de novo) é que, quando a importantíssima prova de natação finalmente chega ao fim, com a vitória de algum americano e o brasileiro em último lugar, e você pensa que terá seu futebol de volta, o narrador manda aquela frase funesta, uma verdadeira punhalada no estômago do torcedor: “Agora, faremos uma pausa no futebol para acompanhar a finalíssima do salto ornamental triplo com vara”. Cara, a sorte da minha TV é que eu não tenho uma arma em casa. E o pior de tudo (ah, como eu sou repetitivo) é que todas as TVs que transmitem futebol (Globo, Bandeirantes e Sportv) farão cobertura total do Pan...

O pior (eu juro que é a última vez) é que não há nenhuma Liliput, Cucolândia das Nuvens, Utopia, e nem sequer uma ilha de Lost onde possamos nos refugiar durante esse tétrico mês. Ah, bem que poderia existir uma Pasárgada ludopédica, um país onde o único esporte praticado fosse o futebol. Minhas malas já estariam prontas. Eu nem precisaria ser amigo do rei, nem exigiria ter a mulher que eu quisesse, muito menos escolher a cama. Ficar livre do salto triplo com vara ornamental e seus afins já seria mais do que o suficiente.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Um Armador Trapalhão


Muito felizmente, esta não é a resenha do que poderia ser mais um filme do pseudo-humorista Renato Aragão. Armador Trapalhão é o Hugo, meia do Tricolor do Morumbi. Enquanto esteve em campo, hoje, contra o Santos, o jogador até que conseguiu demonstrar certos lampejos de lucidez, intercalados, contudo, por freqüentes instantes de nervosismo e mediocridade futebolística.

Durante a vitória do São Paulo por dois a zero sobre o Santos, na Vila Belmiro, o jogador protagonizou lances dignos dessas comédias brasileiras. Essas com que alguns pais torturam seus filhos, dizendo: “se voltar a tirar nota ruim, eu te levo para ver um filme do Didi e depois te obrigo a assistir uma coleção de DVDs da Xuxa”.

No segundo gol do São Paulo, por exemplo, sua participação, excessivamente passiva, foi de uma comicidade incrível. A bola passou por ele duas vezes, uma batendo na canela, e outra, na barriga. O confuso lance é de difícil descrição. Importante mesmo foi que Dagoberto, bem posicionado, aproveitou o gol quase vazio e fez o segundo gol, primeiro dele com a camisa do São Paulo. E o Hugo ficou com aquela cara de “tô feliz, mas não sei o que aconteceu”.

Noutro lance, ainda mais cômico que o primeiro, o jogador foi capaz de arrancar não apenas parte do gramado, como também a raiz e a terra por onde passou seu cego pé esquerdo.

Em outro momento, ao tentar acertar de primeira uma bola cruzada a meia altura por Aloísio, que, diga-se de passagem, fez boa partida, Hugo conseguiu pegar, aliás, resvalar, tão mal na bola, que esta, ao invés de ir para o gol, subiu e subiu e subiu... e a torcida poderia ter gritado “Home Run”.

Instável, o meia foi advertido com um cartão amarelo ainda no primeiro tempo. No segundo, ao reclamar com uma paixão excessiva uma falta que realmente sofrera, mas que o árbitro não marcara, acabou expulso.

Fora do próximo jogo, Hugo deverá ser substituído por Souza, que, embora não tenha mostrado muita qualidade até esta altura do ano, é, mesmo assim, menos trapalhão que o Hugo. E se jogar bem, é bastante provável que o Souza retome a vaga que lhe pertence por direito, não obstante jamais ser escalado nela: Trapalhadas do Muricy. Mas o trapalhão mestre merece uma cornetada (mais uma) só para ele.

Denis Barbosa Cacique (vulgo Zagueiro Míope) – 24 de junho de 2007
(Pênalti! Eu miro o canto direito. A bola, sem querer, vai para o meio, fraca e fácil para o goleiro. É culpa da bola, meu povo. Sempre é culpa dela.)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Aloísio, 14


Não, meus amigos, o “14” do título não se refere ao número da camisa que Aloísio veste no São Paulo. Por incrível que pareça, trata-se sim do número de gols que ele marcou com a camisa tricolor, após um ano e meio no Morumbi.

Aloísio chegou ao São Paulo com o apelido de “Chulapa”. Sacrilégio dos sacrilégios! Afinal, desde então, ele vem demonstrando que sua especialidade é NÃO fazer justamente aquilo em que o Chulapa original era especialista: GOLS. Ora, convenhamos: um centroavante fazer 14 gols em 18 meses não dá. É menos de um gol por mês!

Mesmo assim, ele é elogiado a plenos pulmões por parte dos comentaristas oficiais (impressionante como o Casagrande o ama) por sua capacidade de trombar com os zagueiros adversários, cavar pênaltis, faltas e fazer tal do “papel do pivô” (que, aliás, não serve para nada e vicia o time em dar chutões para frente). Mas isso é a imprensa oficial. Agora, quanto aos corneteiros... ah, os corneteiros ele não engana.

E acontece que o mais interessante no desempenho pífio de Aloísio não é nem a escassez de gols, e sim o modo inusitado com que esses pouquíssimos tentos foram anotados. Estes foram, sem dúvida, momentos sobrenaturais marcantes da história do ludopédio recente.

Esses gols foram de fato tão poucos e tão esquisitamente notáveis que eu consegui, quase que 100% de cabeça, elaborar a seguinte lista:

GOLS DE ALOÍSIO PELO SÃO PAULO

Caracas 1x2 (Libertadores): de tornozelo (sem querer: alguém chutou de longe e ele tentou dominar a bola).
1x2 Chivas (Libertadores): de pé (chute voador, a la Liu Kang).
Cienciano 0x2 (Libertadores): de pé (gol normal).
Palmeiras 1x1 (Libertadores): de sola do pé (ou algo parecido: o gol foi de carrinho).
2x1 Palmeiras (Libertadores): de canela ou algum outro pedaço da perna entre joelho e tornozelo (após perder um gol feito de cabeça, ele se jogou na bola, levando goleiro e zagueiro junto para as redes).
Internacional 3x1 (Brasileiro): de ombro
3x2 Paraná (Brasileiro): de sobrancelha (em impedimento)
Fluminense 1x2 (Brasileiro): de pé (errou o chute: se “cadarço da chuteira” fosse uma parte do corpo, seria essa a definição).
5x0 Juventude (Brasileiro): de orelha
Figueirense 0x2 (Brasileiro): outra cabeçada de ombro (com ajuda do antebraço)
Sertãozinho 1x3 (Paulista): um de joelho e um de nariz (DOIS GOLS EM UM JOGO!)
Rio Claro 0x2 (Paulista): pé (gol normal. Eu até diria, pasmem, gol bonito)
2x2 Audax (Libertadores): cabeça (gol normal)

Total: 14 gols
Estatística: pé (4); ombro (2); cabeça (1); tornozelo (1); canela (1); sola do pé (1); sobrancelha (1); joelho (1); nariz (1), orelha (1).

Considerando toda essa versatilidade com que Aloísio utiliza suas partes corporais para empurrar a bola para as redes, sugiro um novo apelido para ele: ALOÍSIO FEIJOADA. Assim, evitaríamos o sacrilégio que eu citei e, ao mesmo tempo, usaríamos uma alcunha mais adequada.

Obs.: Eu poderia até ter esperado pelo clássico de domingo para publicar esse texto, uma vez que, se o nosso querido Aloísio marcar um gol contra o Santos, meu título será estragado. Mas, aahh... quer saber, o risco é muito pequeno.

Um Brasil Novo


Não se deixe enganar pelo título. Este meu modesto texto não tem pretensão alguma de mudar a história deste nosso quase sempre ridículo país. Ele pretende apenas por em marcha o debate em torno dessa nova seleção brasileira; nova porque não tem Dida, Cafu, Roberto Carlos, Emerson, Zé Roberto e Ronaldo, jogadores que faziam a média de idade (e o peso) da seleção subir mais do que a temperatura terrestre em tempos de aquecimento global.

A Copa América terá início no dia 26 de junho, e o primeiro jogo da Seleção Brasileira (contra o México) será no dia seguinte, uma quarta-feira. Abaixo segue a lista de jogadores convocados por Dunga, o teimoso, já com os números oficiais estabelecidos pela CBF: 1 – Hélton, 2 – Maicon, 3 – Alex, 4 - Juan, 5 – Mineiro, 6 - Gilberto, 7 – Elano, 8 - Gilberto Silva, 9 - Vagner Love, 10 – Diego, 11 – Robinho, 12 – Doni, 13 - Daniel Alves, 14 - Alex Silva, 15 – Naldo, 16 – Kleber, 17 – Josué, 18 – Fernando, 19 - Júlio Baptista, 20 – Anderson, 21 – Afonso e 22 – Fred.

Com base nesta lista, assim ficaria meu time titular, pensado num esquema 4-4-2:

- Hélton no gol (confio neste tanto quanto no Doni, ou seja, nenhum pouco).
- Maicon e Gilberto para as laterais (o Maicon é mais eficiente que o Daniel Alves na defesa, e o Gilberto não é um gênio nem para marcar nem para atacar, mas é o que se tem).
- Alex e Juan para a zaga (boa dupla, Juan é o zagueiro técnico, Alex é o assassino, mas nem por isso grosso, de que todo time precisa).
- Mineiro e Gilberto Silva como volantes (por causa do entrosamento adquirido em tempo de Tricolor do Morumbi, acho que Josué e Mineiro seriam a melhor dubla caso a média de altura do meio campo não ficasse tão prejudicada).
- Diego e Kleber para a armação (Elano e Julio Batistas não são bons armadores nem bons defensores, o Kleber faz essas duas coisas melhor que eles).
- Robinho e Fred (Fred e Love quase se equivalem, escolho o primeiro pensando numa possível vantagem que possa ter em jogadas aéreas, já que é ligeiramente mais alto).

Caso eu pudesse montar uma lista com qualquer jogador brasileiro, assim ficaria meu time titular, também pensado num 4-4-2:

- Dida no gol (apesar da idade, ainda é o que o Brasil tem de melhor).
- Cicinho e Kleber para as laterais (escolho o Cicinho pensando no futebol que o vi jogar pelo São Paulo, nos tempos do tri mundial e da Libertadores, e pela Seleção, na época em que venceu a copa das confederações. Quanto ao Kleber, é o melhor lateral esquerdo brasileiro da atualidade).
- Alex e Juan para a zaga (boa dupla, Juan é o zagueiro técnico, Alex é o assassino, mas nem por isso grosso, de que todo time precisa. No lugar do Juan, pensei em colocar o Miranda, excelente zagueiro do São Paulo, mas fiquei com o primeiro por causa da experiência).
- Mineiro e Gilberto Silva como volantes (ótima dupla, eficiente na marcação e na saída de bola, sobretudo por causa do Mineiro).
- Kaká e Alex na armação (não consigo entender como podem deixar o Alex de fora da seleção, ele é um legítimo craque. Às vezes dorme durante o jogo, mas quem é que não dá uns cochilos durante o trabalho ou a aula de Fenomenologia do Espírito?).
- Ronaldinho e Dodô (Ronaldinho não está em bom momento, mas, mesmo que jogasse futebol e Game Boy ao mesmo temo, seria melhor que o Robinho. Quanto ao Dodô, a verdade é que este é o melhor atacante de área que o Brasil tem no momento, sem contar que é um artilheiro desde sempre. Talvez o Luis Fabiano seja um nome tão bom quanto, exceto pelo fato de não ser muito estável psicológicamente).

É isso.

Comente, mande sua escalação, critique, desça o sarrafo e, principalmente, reze, porque a seleção do Dunga, com os gênios Fernando, Elano, Afonso, Gilberto e Julio Batista, vai precisar muito!

Denis Barbosa Cacique (vulgo Zagueiro Míope) – 22 de junho de 2007 (eu armo o time... com estiletes enferrujados)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Driblando os Ponteiros


Na noite de ontem, pela Libertadores, nenhuma surpresa. Razão pela qual abro mão de escrever a “Autópsia do Jogo”, para arriscar-me em mais uma “Meditação Cornetística”.

Antes disso, simplesmente para que não digam que cometi o pecado da indiferença à sacra final, eis minha impressão do jogo: se tivesse a sorte com que derrotou São Paulo e Santos, as duas bolas que o Grêmio acertou na trave teriam sido gols e, na melhor das hipóteses, ao invés de perder por dois tentos a zero, o time gaúcho teria vencido pelo mesmo placar. Ainda que o zombeteiro deus do ludopédico (este nome pega) assim tivesse permitido, o Grêmio não colocaria as mãos na taça, já que precisava impor uma diferença de quatro gols para sagrar-se campeão. Quanto a Roman Riquelme, sua participação decisiva nos dois jogos da final apenas reforça minha tese de que não considerá-lo um craque é um tremendo sacrilégio, cujo castigo é uma passagem sem volta para o lago flamejante do Inferno. Enfim, o time do Grêmio é ruim, seus laterais não sabem apoiar o ataque, os meio campistas não sabem armar e o Tuta é grosso. O Boca é tradicionalíssimo, o Riquelme é sim um craque, e o Palermo cobra pênaltis tão bem quanto minha sogra, que é daquela religião que considera pecado jogar futebol. Dito isto, vamos à prometida reflexão.

Era de se esperar que, dada a vantagem de três gols conquistada em casa, o time argentino cozinhasse ao máximo o jogo. E foi exatamente assim. Aliás, não dá nem mesmo para saber se a cera foi máxima, já que o mui excelentíssimo árbitro colombiano Oscar Ruiz foi absolutamente negligente à irritante debilidade da equipe do Boca.

Mas não quero ser hipócrita: quando meu time detém uma vantagem tão ampla como a que tinha ontem o time argentino, eu adoro que se faça cera. O fato, contudo, é que, embora a cera seja uma daquelas coisas que dão graça ao futebol mesmo não sendo propriamente futebol, a sua prática fere não apenas o time que corre contra o relógio, mas todo um espetáculo que tem hora certa pra começar e terminar.

Fazer cera é uma forma imoral e covarde de fugir do jogo. Sem dúvida, sob a ótica do favorecido, a cera tem certo ar cômico e gracioso, mas é, acima de tudo, um crime contra o esporte, sobretudo contra aqueles que se preparam com seriedade e afinco em busca do gol.

A cera também fere o espetáculo porque reduz drasticamente o tempo de bola rolando. Não é incomum assistir jogos em que o tempo de bola rolando é inferior ao tempo de bola parada. Isso é um absurdo. Mais ainda para os idiotas que pagam uma fortuna para assistir os jogos nos estádios. É como pagar caro para ir ao cinema e ter que assistir a um filme cheio de cortes.

Recordo-me que, ao fim da ultima Copa do Mundo, ouve certo falatório sobre a possibilidade da Fifa alterar alguma ou algumas regras do Futebol no intuito de aumentar o número de gols por partida. Falou-se até em aumentar o tamanho do gol. Que ridículo. A minha sugestão é muito mais simples: que as partidas de futebol sejam tais como as de basquete, nas quais só vale o tempo em que a bola está em jogo. Seria ótimo.

Com menos tempo desperdiçado, cada etapa da partida poderia ter apenas 35 minutos, e ainda assim o tempo total de bola rolando seria superior ao que se tem atualmente. Outra possibilidade é que o jogo fosse dividido em três partes com tempos iguais. Acho que esta alternativa talvez seja até a mais interessante, já que os jogadores teriam mais tempo para descansar e, por conseguinte, poderiam manter um ritmo mais puxado ao longo de toda partida.

A verdade é que, embora eu proponha todas essas coisas, sei que, no fundo, eu sou um conservador ferrenho. Acho que o futebol é bonito assim do jeito que é. Se se mexer um pouquinho nele, perde o romantismo que lhe sobrou dos tempos em que o Diamante Negro ainda jogava.

Talvez eu tenha dito tudo isto apenas porque me compadeci do pobre Grêmio, tão vitimado pela malícia argentina, pela negligência colombiana, e pela atual mediocridade futebolística dos times brasileiros.

Denis Barbosa Cacique (vulgo Zagueiro Míope) – 21 de junho de 2007 (eu mato a bola na canela, mas nunca deixo o time titular)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

A Carreira de Futebolista e seus Estágios

Estágio 1: MOLEQUE (~17 a ~20 anos)
Trata-se daquele primeiro estágio em que o imberbe futebolista ainda é uma incógnita. Há um consenso geral de que, nesse momento, é impossível determinar se o garoto irá vingar ou não. Os comentaristas oficiais costumam dizer o seguinte: a) se o garoto parece levar jeito: “Fulano tem um grande futuro pela frente, mas temos de esperar, pois ainda é muito cedo para julgá-lo. Ele tem muito a evoluir”; b) se o garoto parece ser um perna-de-pau: “Beltrano ainda não demonstrou um futebol convincente, mas temos de esperar, pois ainda é muito cedo para julgá-lo. Ele poderá evoluir”.
Ex: Alexandre Pato, Willian (Corinthians), Carlos Eduardo


Estágio 2: TWEENER (~20 a ~24 anos)
Os MOLEQUES que se tornam craques não passam por aqui: eles migram direto para o terceiro estágio. Por outro lado, os que ainda não convenceram suficientemente para serem considerados MADUROS, mas que, concomitantemente, estão a tempo demais na praça para serem chamados de MOLEQUES, acabam ficando no meio do caminho entre um estágio e outro*. Esse estágio aqui costuma ser uma espécie de divisor de águas: os que passam por ele tornam-se bons ou ótimos jogadores; os que são reprovados caem nas categorias de medíocres ou ruins.
Ex: Diego e Robinho

*Não encontrei nenhuma palavra em português que dê conta tão bem dessa situação quanto o termo inglês Tweener.

Estágio 3: JOGADOR MADURO (~21 a ~28 anos para os craques e ~25 a ~28 anos para os que vieram do TWEENER)
Encontram-se aqui os jogadores considerados “prontos”: já evoluíram tudo que tinham para evoluir e atingem o auge físico e técnico. Os bons e ótimos vivem seu esplendor durante esse período; os craques têm sua craquidade confirmada.
Ex: Kaká, Eto'o, Ronaldinho, Lampard, Gerrard





Estágio 4: JOGADOR RODADO (~28 a 30 anos)
Os maduros continuam sendo maduros. A diferença é que aqui eles passam a ter a companhia dos medíocres e ruins que sobreviveram e chegaram a essa idade.
Ex: Todos que têm entre ~28 e 30 anos








Estágio 5: JOGADOR EXPERIENTE (30 a ~33 anos)
30 anos é uma marca sagrada (algumas vezes demoníaca) na carreira de um jogador de futebol: após completar três dezenas de carnavais, sua carreira inevitavelmente sofre mudanças, sejam elas positivas ou negativas. Alguns, demonstrando clara decadência, não jogam mais o mesmo futebol de antes e acabam caindo diretamente para o temido estágio sétimo; outros, ao contrário, conseguem unir as mesmas qualidades que sempre tiveram à experiência adquirida. Tornam-se, assim, até melhores do que eram antes. Estes últimos são os privilegiados que recebem o nobre título de EXPERIENTES (quando digo “nobre”, refiro-me obviamente à acepção literal do termo. Afinal, todos nós conhecemos o sentido irônico e pejorativo da palavra – um eufemismo de “velho” ou “decadente”).
Ex: Zé Roberto, Henry, Paul Scholes

Obs.: Nos dois próximos estágios, me abstive de colocar entre parênteses as faixas etárias, simplesmente porque considero impossível estabelecê-las. O estágio 6 é uma sociedade extremamente restrita e depende muito da individualidade e das contingências na carreira do jogador. Já o estágio 7 é o mais flexível de todos no que concerne à classificação etária, pois jogadores de quase todas idades, em quaisquer momentos de suas vidas, podem dar de cara com ele, por motivos dos mais variados (decadência física, síndrome do “chinelinho”, tendência para a ingestão de substâncias etílicas, comportamento vampírico no tratamento da distinção dia-noite etc.).

Estágio 6: KNOCKING ON HEAVEN’S DOOR
Este é um estágio exclusivo para craques e ótimos jogadores que não encerraram suas carreiras quando ainda eram EXPERIENTES. Chega até aqui o craque ou ótimo jogador cujas pernas já não agüentam mais o mesmo tranco, embora ele demonstre claramente que ainda tem lenha para queimar. De fato, o esplendor da fase EXPERIENTE ficou para trás, mas, ainda assim, o futebolista tira todo o caldo da sua qualidade técnica e consegue jogar o suficiente para ser considerado fundamental, tanto pelos seus companheiros e por seu técnico, quanto pela imprensa e até mesmo pelos corneteiros. Contudo, ele deve se cuidar: esse estágio tem sempre curta duração e a linha que o separa do próximo é tênue. Quando ele começar a ouvir a voz de Bob Dylan (ou de Axl Rose, de Eric Clapton, ou até o bom português de Zé Ramalho) cantando os lúgubres versos, isso significa que a “fria nuvem escura está descendo” e chegou a hora de parar. Ex: Del Piero, Ryan Giggs, Thuram


Estágio 7: EX-JOGADOR EM ATIVIDADE
“... acariciar a serpente que nos mata até que ela devore nosso coração”. Foi assim que Voltaire, em algum lugar do Cândido, definiu a saga dos miseráveis que, por um inexplicável apreço à sua mal-fadada existência, fazem esforços hercúleos para evitar a morte e seguir em sua trilha de infortúnios. O presente estágio, uma espécie de último círculo do inferno ludopédico, mostra-se como um paralelo disso no futebol.
Quando o jogador chega até aqui, ocorre o seguinte fenômeno: apenas ele próprio, o técnico (ou o presidente) de sua equipe e alguns poucos membros da imprensa acham que ele ainda rende alguma coisa dentro de campo. Essa fase é tão lamentável que nela medíocres e craques (ex-craques) praticamente se igualam: eles se arrastam pelas canchas, tentando, sem o menor sucesso, fazer o que faziam antes, crentes de que ainda são capazes de realizar os mesmos feitos de outrora. De modo que acabam, inevitavelmente, virando motivo de piada para os corneteiros. A carreira do jogador passa a ser uma luta agônica contra o sempre impiedoso punhal do tempo. E tudo isso, com o único intuito de sustentar um fardo que se torna mais pesado a cada prélio. Em outras palavras: a carreira do jogador já acabou, mas ele ainda não foi informado...
Ex: Ronaldo, Roberto Carlos, Cafu (assitam a jogos da série B e inúmeros outros exemplos surgirão)


Estágio 8: NÃO-ACREDITO-QUE-ESSE-CARA-AINDA-JOGA (~35 anos a ?)
A característica marcante deste último e deplorável estágio é que o jogador, após sua fase EXPERIENTE ou de EX-JOGADOR EM ATIVIDADE, desaparece completamente do mapa, fazendo com que todos acreditem que ele encerrou a carreira. Todavia, quando menos se espera, ele reaparece sub-repticiamente, atuando em alguma série B, série C, série A-2 ou algo assim. E quando isso ocorre e ele é notado por alguém que acompanha futebol a tempo suficiente, a frase-título do estágio é pronunciada em tom exclamativo. Esse tipo de jogador também é conhecido por suscitar comentários do tipo: “Esse cara só pode ser gato”; “35 anos? Tá bom... só se forem 35 em cada perna!”; “Fulano? Ah, não... deve ser o filho dele que tem o mesmo nome”; “Não é possível! Quando esse cara jogava no time x em 19yz, ele já era velho!”.
Ex: Romário (uma exceção, de certo modo), Junior Baiano, Válber (aquele do São Paulo), Antonio Carlos

sábado, 16 de junho de 2007

Opções da Formação: São Paulo


O São Paulo precisa vencer o Vasco amanhã. Para ganhar moral e afastar de vez esse princípio de crise, o tricolor paulista não pode se dar ao luxo de perder mais pontos em casa (o que já aconteceu na rodada passada diante do Atlético Mineiro). Mas, para isso, precisa fazer gols. Coisa que o melhor ataque do Brasileirão de 2006 parece ter esquecido durante as férias.

O principal responsável pela seca de gols são-paulina, contudo, não é o ataque, e sim o meio-campo. Há um visível buraco entre o meio de campo e o ataque tricolor. Para constatar isso, basta tentar (se esforçar para) lembrar qual foi o último gol do time marcado de dentro da área do adversário (pênalti não conta, óbvio). O fato é que o time está viciado em três jogadas básicas: as arrancadas de Ilsinho, os chuverinhos de Jorge Wagner e os chutões para o Aloísio. O ala-direito, em má-fase, não consegue produzir uma jogada individual desde que foi convocado à seleção brasileira. Já as outras variações pecam por depender demais do pivô Aloísio. A própria característica dessas jogadas, limita a movimentação do atacante (já que os lançamentos vêm sempre dos mesmos lugares). Então, basta que o miolo de zaga o marque (um encosta, outro sobra) para anulá-lo. O pivô fica assim incapaz de cabecear os chuveirinhos, de ajeitar e de girar para finalizar as bolas que recebe diretamente do setor defensivo ou dos alas.

O São Paulo precisa ocupar a intermediária adversária. É preciso que o time volte a se movimentar naquele setor, prendendo ali a bola, para dificultar a marcação adversária e permitir a chegada dos jogadores próximo ao gol adversário em condições de finalizar. Os desfalques gerados pelo excesso de cartões e pela seleção brasileira fornecem a Muricy a oportunidade perfeita para um experimento na formação do time. Muda-lo para deixar os jogadores de toque de bola mais próximos de onde ela precisa ser tocada. O experimento (que Muricy, é claro, não fará) ideal para mim, é o seguinte:



Como dito anteriormente, Ilsinho está em má fase, mas com Reasco em sua seleção, ele é a única opção para a lateral direita. Um dos laterais de ofício assumiria a lateral esquerda para liberar J. Wagner que comporia o meio de campo. Minnha primeira opção seria claro, Junior. Souza retornaria a meia direita. Apesar da fase ruim, ainda é o principal assistente do time. Com Fredson contundido, não sobram opções para a dupla de volantes a não ser: Richarlysson e Hernanes. Richarlysson não é um grande marcador, mas tem boa saída com a bola. Junto com Junior e J. Wagner ele poderia formar um setor esquerdo interessante. Como os três são jogadores inteligentes, poderiam alternar suas chegadas ao ataque de forma que sempre um deles permaneça na cobertura. Hernanes ficaria um pouco mais preso, subindo mais como um fator surpresa (seu chute forte de fora da área) do que como elemento de triangulação. Esse papel seria realizado mais por Hugo, que teria que se esforçar para cair mais vezes pela direita que pela esquerda, no entanto, nada impede que troque de posição com J. Wagner algumas vezes, para que o camisa 7 componha a triangulação do setor direito e Hugo abra pela esquerda. Jogando mais próximo ao gol, as qualidades de Hugo (velocidade, bom drible e domínio de bola, boa finalização) seriam maximizadas e suas desvantagens (pouco poder de composição da marcação do meio-campo, pouca capacidade de cadenciamento do jogo, etc) minimizadas. Com mais gente chegando à frente por meio do toque de bola, Aloísio se posicionará como pivô apenas para formar o mais adiantado vértice da triangulação, aumentando o número de boas oportunidades criadas para seus companheiros. Não mais sobrecarregado, o pivô poderia se preocupar mais, é claro, em finalizar.

Por fim, boas opções para substituições no decorrer da partida seriam: Borges (para substituir Aloísio ou para entrar em “modo kamikaze” no fim do jogo), Lenílson (para substituir Hugo caso esse não atue bem. Menos velocidade, mais poder de finalização) e, Edcarlos (caso seja preciso retrancar para garantir o resultado).

Brunão, que não é tecnico de futebol mas também atende a chamados de "ow professor".

Perdido em Hollywood




A novela "Robinho" caracteriza-se principalmente por seus aspectos negativos: as atuações desastrosas e diálogos horríveis. Duas características que fazem dela mais um "dramalhão mexicano" do que uma "produção global". Os diálogos ruins ficaram por conta das declarações do argentino Tevez e, principalmente, do técnico da seleção brasileira (mais sobre isso, em post específico). Já, as atuações da FIFA, CBF e Real Madrid são exageradas para tentar, inutilmente, ocultar a incompetência canastrona diante de um problema simples. Contudo, o pior não é a baixa qualidade da tal "novela". O pior é o fato dela estar ofuscando dois outros aspectos dramáticos mais interessantes dessa rodada final. O primeiro deles, mais óbvio, é a rodada em si e a possibilidade do Real Madrid conquistar o título que pode tirá-lo da crise dos últimos tempos. E o segundo é a despedida do meia inglês David Beckham não só do Real Madrid, mas do futebol, ou pelo menos, do futebol "mainstream".

Há alguns meses atrás, todo esse drama caminhava para um final melancólico. O Real Madrid estava em crise. O fim da era galáctica estava anunciado. Capello havia identificado Beckham como parte do grupo responsável pela derrocada do time merengue. O jogador mal ficava no banco de reservas. E, por fim, foi duramente atingido pela "limpa" dos membros da era galáctica, tendo sua dispensa anunciada para o fim da temporada. Sem perspectivas financeiramente viáveis (é preciso manter o padrão de vida, afinal, o que diriam as amigas de Victoria?) dentro do mercado mainstream, o jogador aceitou a proposta do Los Angeles Galaxy. Com as passagens para Los Angeles já reservada, e a mansão em Beverly Hills já comprada, parecia não restar mais nada ao herói inglês a não ser esperar sentado, no banco de reservas, pelo anti-climático final. Contudo,
a trama logo sofreria uma virada. Não brusca como nos filmes hollywoodianos, mas cadenciada como seu jogo. Sua precisão nas bolas paradas, seu cadenciamento e boa composição de meio de campo trouxeram estabilidade ao indefinido time de Capello e, logo, ele já estava escalado para o primeiro jogo da Liga dos Campeões contra o Bayern de Munique. Beckham jogou bem, quase tão bem quanto nos tempos de Manchester, e Capelo já não pôde mais negar que o meia britânico fazia bem, muito bem, a seu time ainda pré-montado. O retorno de Beckham, contudo, não foi o suficiente para impedir a eliminação do Real da liga dos campeões em jogo que contou com Robinho no banco e lance desleixado de Roberto Carlos (dois fatores presentes também em outra eliminação...). Porém, mantendo-se na toada de compor o meio de campo, levar perigo nas bolas paradas e cadenciar o jogo, o inglês tornou-se peça fundamental para a recuperação merengue, que, por sorte, ocorreu no mais oportuno dos momentos: a derrocada do Barcelona.
E, para completar a reviravolta, o meia volta a seleção de seu país, não apenas para o amistoso contra o Brasil, mas para tentar salvar a Inglaterra de um vergonhoso fracasso nas eliminatórias para a Eurocopa.

Não estou dizendo que a ressurreição do Real Madrid se deva somente à David Beckham. Talvez a integração de Robinho ao time titular ou a chegada dos novos reforços tenham sido fatores mais decisivos do que as atuações do meia inglês. Afinal, Beckham nunca foi um jogador tão decisivo. Nunca foi desses que resolve sozinho. Nem nos tempos de Manchester. E, também, nunca foi apenas um "Marcelinho piorado". Beckham é um bom jogador que se destaca, principalmente, por sua lucidez acima da média. Essa lucidez, contudo, parece funcionar apenas dentro de campo. Fora dele, o inglês optou por mergulhar de cabeça no estilo de vida de celebridade. E, embora, não tenha sido, em momento algum, o mais brilhante dos jogadores, tornou-se, sem dúvida, a mais brilhante das estrelas do "star system" futebolístico. Ironicamente, sua ascensão à ícone pop atrapalhou seu reconhecimento como jogador. Não apenas pelas interferências do estilo de vida em seu rendimento em campo, mas, principalmente, pela interferência sob o modo com que os outros enxergavam suas atuações. Simplesmente por que jogador algum poderia ter um rendimento dentro de campo equivalente a exposição de Beckham fora dele. A expectativa de genialidade impediu em muitos a visão do talento.

A ida para Hollywood é mais um indício de que a devoção e a lucidez de Beckham se restringem às quatro linhas. E, esse, talvez seja um indício emblemático. Ao escolher Hollywood, Beckham parece ter anunciado nas entrelinhas o fim da divisão entre a celebridade e o jogador de futebol. Decidindo-se por ser celebridade em tempo integral. E, é daí, que vem o aspecto dramático de sua última partida pelo Real. Esse pode ser seu ato final como jogador "de verdade". E, embora, o epílogo desta história (em Hollywood) já esteja encaminhado, não consigo prever seu final. Apenas torcer para que seja digno.

Brunão (a.k.a "Goleiro Nerd") joga com a Inglaterra no Fifa porque acha o Brasil muito apelão...

quinta-feira, 14 de junho de 2007

2007: A Saga de Uma Libertadores Medíocre

La Bombonera: Um estádio que ganha jogo
Podem me chamar de exigente, enjoado, chato, rabugento etc., mas que essa Copa Libertadores foi medíocre, ah isso foi. Já começamos com o atual campeão, o Internacional, sendo eliminado na primeira fase, juntamente com o tradicionalíssimo River Plate. Depois, vimos o mais bem-sucedido clube brasileiro na história da competição, o São Paulo, fazer campanha pífia e ser eliminado nas oitavas de final, já tendo ido longe demais pelo futebol que jogou. Em seguida, nos espantamos com o aparecimento de um tal Cúcuta que, com ares de Once Caldas, foi bem longe (mais do que deveria) e parou somente na semi final. Por fim, o melhor time da competição, o Santos, foi eliminado por causa da maldita regra dos gols marcados fora de casa.

Após tudo isso, chegaram à final dois times medíocres, embora tradicionais. Comecemos pelo vice-campeão (ou alguém em sã consciência ainda acredita na virada gaúcha?). O que se pode dizer de um time cujo “craque” é o Tcheco e que aposta suas fichas nos “talentos” de Lúcio, Sandro Goiano e Tuta? Ah, claro, alguém irá dizer: “Mas o forte do Grêmio é a raça, a determinação e a força”. Muito bem, meu caro, mas então eu te pergunto: o que mais demonstra o Grêmio além dessas três virtudes? Absolutamente nada. Ora, convenhamos,... a equipe gaúcha, tecnicamente, é uma lástima.

Passemos ao campeão. O Boca Juniors, deixando de lado qualquer trocadilho infame e previsível, é um time meia-boca. Aquela defesa,... santos deuses ludopédicos! O goleiro, nosso glorioso Caranta (não sei se escrevi certo), rebate mais bola do que o Doni e o Gomes juntos; aquele Morel é uma espécie de André Dias argentino; e o tal do Díaz (que, aliás, parece mais um capanga de traficante colombiano) deve ser contra-indicado, em caso do torcedor ter histórico de problemas cardíacos; e mesmo o Riquelme, por mais que o elogiem, considero-o bem abaixo do Riquelme dos outros títulos boquenses. Resumindo: um time que fica muito distante dos Bocas 2000 e 2003, que venceram, respectivamente, Palmeiras e Santos. Aqueles sim eram timaços: uma defesa segura, com o goleiro Córdoba e depois Abondanzieri, o Córdoba zagueiro, além de um Riquelme no auge, Schelotto, Delgado, Tévez... todos sob o comando do mestre Bianchi.

O jogo de ontem foi um perfeito resumo da campanha boquense nessa Libertadores: garante sua classificação ganhando jogos na marra dentro da Bombonera. Ontem teve ainda uma ajuda impressionante do Zeus ludopédico: abriu o placar com um gol esquisito e em impedimento, quando era amplamente dominado pelo adversário. Depois, foi auxiliado pela brilhante performance de Sandro Goiano, que mais uma vez executou com perfeição suas especialidades: dar pontapés e ser expulso de campo. Com o Grêmio lutando para garantir o menor dos desastres, o Boca, embora não tenha criado mais muitas chances, acabou ampliando com um gol de falta de Riquelme... uma falta cobrada em estilo nada Riquelmeano. E, para completar, os portenhos ainda “marcaram” aquele terceiro gol: um tento que, caso o jogo estivesse acontecendo na Bahia, todos diriam ser obra de algum deus afro-brasileiro que fora instigado por certas oferendas galináceas, enterradas atrás da meta de Saja.

Enfim, Boca e Grêmio fizeram um jogo atípico e mais uma vez o time argentino ganhou com a ajuda sobrenatural da sua mística arena (e com a ajuda nada sobrenatural do bandeirinha, claro). O time da Bombonera se sagrará hexacampeão na semana que vem, graças muito mais à ausência de adversários decentes do que a seus próprios méritos. Sempre que concluo algo desse tipo, a saber, que o campeão de um torneio deve mais à incompetência dos outros do que à sua própria competência, sou obrigado a dizer que o torneio em questão foi medíocre. Arrisco-me até a dizer o seguinte: essa só não foi a pior Libertadores do século, porque nosso bravo Cúcuta ficou pelo caminho e perdeu a chance de repetir o imortal Once Caldas 2004.

E o Riquelme estava Gripado


Como temiam os gremistas e, do outro lado da fronteira Brasil-Argentina, desejavam Maradona, Tevez e todos os outros fanáticos torcedores da equipe mais popular da Argentina, o Boca Juniors fez valer sua fama de time copeiro vencendo, e muitíssimo bem, a apática equipe do Grêmio. Mas Francis Ford Coppola, presente no La Bombonera, se entender de futebol ao menos um décimo do que entende de cinema, certamente achou o “filme” previsível demais. O sempre impiedoso Boca, empurrado por sua torcida e regido pelo maestro feioso, pero genial, Roman Riquelme, atropelaria o time gremista, cuja maior virtude é a paixão – e isso, frente a times como o Boca, é pouco. Isso era o que se esperava. Isso foi o que aconteceu.

Contudo, o Boca temível só deu as caras no segundo tempo do jogo. Na primeira etapa, embora tenha assustado algumas vezes o arqueiro gremista, Saja, que, por sinal, é argentino, mostrou-se bastante acanhado durante a maior parte do tempo. Mesmo quando fez seu primeiro gol, num instante irônico da partida, era o Grêmio quem estava ligeiramente melhor, ameaçando ameaçar o gol argentino. Cabe dizer que o gol foi ilegal. Resultou de uma cobrança de falta de Riquelme (sempre ele), que lançou o impedido Palermo, que, tentando finalizar a gol, acabou passando para Palácios. Este só teve o trabalho de empurrar, desajeitado, para o gol vazio do Grêmio.
Mesmo com a vantagem no placar, o Boca parecia estranhamente desinteressado. O segundo tempo mostraria que o time argentino, assim como o segundo Don Corleone de Coppola, tinha sob a manga muito mais do que fazia parecer aquele jeito lento de jogar futebol. Afinal, um Corleone é sempre um Corleone, assim como o Boca, que sempre é o Boca. Mas o que é o Boca? Aliás, o que é o Boca jogando no La Bomboneira e regido por Riquelme? É um time que pressiona o adversário, explora os seus erros e, acima de tudo, faz gols.

No segundo tempo, apareceu, enfim, o Boca que se temia. O time argentino adiantou a marcação, acelerou o jogo e começou a pressionar o time gremista. Nervoso, Sandro Goiano acabou expulso, merecidamente, por atingir o rosto de Bonega. Com o buraco deixado no meio campo, o Boca tomou, de vez, conta do jogo. Num lance incrível, Teco salvou, em cima da linha, o chute dado por Palácios após triangular com facilidade, dentro da área gremista, com Clemente e Cardozo. Poucos minutos depois, contudo, Riquelme cavou uma falta na entrada da área e, na cobrança, aproveitou o buraco deixado por Lucas na barreira e fez o segundo gol do jogo. Se o placar parasse por aí, até que o prejuízo seria pequeno para o time brasileiro, mas não parou.
Nos minutos finais, após uma seqüência belíssima de dribles de Riquelme, finalizada com um forte chute que o goleiro Saja espalmou para o lado da área, e não para fora do campo, como é o certo, Palermo cruzou, Ledesma cabeceou dividindo a bola com o goleiro e fez, um pouco por mérito próprio, outro pouco por causa dos então assustados zagueiros gremistas, o terceiro e ultimo gol da noite.

Don Roman Riquelme Corleone, embora gripado, venceu o jogo. A esquadra gremista deve ter ficado mal acostumada marcando os Souzas, Hugos e Pedrinhos do Brasil.

Ah, faltou dizer o que o Grêmio fez no segundo tempo: o Grêmio tomou dois gols no segundo tempo, e isso foi tudo. Aliás, vou tentar ser justo: Lúcio e Carlos Alberto não pareceram sentir a pressão. Jogaram bem.


Na próxima quarta, se quiser ser campeão, o Grêmio precisará, a meu ver, de um daqueles geradores de improbabilidades infinitas. Só isso. Mas Coppola está mais para os dramas do que para as ficções científicas. Uma pena.


Denis Barbosa Cacique (Vulgo Zagueiro Miope) – 14 de junho de 2007

quarta-feira, 13 de junho de 2007

O Fator Riquelme versus o Fator “às vezes”


Hoje à noite, no La Bombonera, em Buenos Aires, Argentina, claro, será o primeiro jogo da final entre Grêmio e Boca Juniors, pela Copa Libertadores da América 2007.

Aí as pessoas me perguntam: “quem você acha que ganha?”. Na verdade, ninguém me pergunta nada, mas se perguntasse, eu diria: “pode até não ganhar, mas o Boca é, ao meu ver, favorito ao título. O time argentino é favorito porque tem Riquelme, ao passo que o time gaúcho não é favorito porque não tem Riquelme. Simples, não!?”

Felizmente para todos os que torcem pelo grêmio nesta final, e eu me incluo neste grupo, o futebol não é dessas coisas fáceis de equacionar e prever o resultado. Às vezes o mais brilhante jogador sofre um blecaute. Às vezes o mais tosco dos atacantes, como o Palermo, por exemplo, arrebenta com a partida. Às vezes o juiz rouba, noutras erra. Às vezes os arqueiros resolvem ser bonzinhos. O futebol é cheio de “às vezes”.

Enfim, futebol e ciência não são a mesma coisa, e essa é a graça da coisa. E é só por isso que não afirmo, com total certeza, que o troféu já é do Boca.

Denis Barbosa Cacique (vulgo Zagueiro Míope) – 13 de junho de 2007

Rompimentos no Amor e no Amor, digo, no Amor e no Futebol


Saber qual é o momento certo para se demitir o treinador de um time de futebol não é coisa das mais fáceis. Ouso até dizer que o caso é semelhante ao daquelas crises que acometem todo relacionamento. Nesses momentos, é quase impossível saber se o rompimento será, de fato, a decisão acertada. Por que? Ora, porque, de repente, se o rompimento não ocorrer, é possível que os problemas sejam superados e o relacionamento volte (caso tenha sido) perfeito. No fim das contas, o critério para saber qual é o momento certo para o rompimento acaba sendo a paciência. Quando uma das partes não suporta mais a outra, rompe-se. Agora, dizer se o futuro será melhor, é quase sempre questão de sorte, seja no amor, seja no universo da bola. Bem por isso, os mais temerosos acabam mantendo, por melhor ou pior que seja a situação, o mesmo técnico ou parceira(o), como é o caso do Sir Alexander Chapman Ferguson, treinador que está à frente do Manchester United há 20 anos (para saber mais, clique aqui).

Mas ninguém precisa se preocupar comigo: meu casamento vai muito bem. O que não vai muito bem é o time dirigido pelo técnico Muricy Ramalho, meu querido Tricolor do Morumbi.

Aí eu pensei: “qual deve ser o critério para saber que o cara tem que ser demitido?”. É difícil descobrir, mais ainda se o técnico for tão bom quanto é, de fato, o Muricy. É como se, num namoro que vai aos trancos e barrancos, o cara tivesse que decidir se dispensa ou não a super-gostosona que namora. É difícil.

Refém dessa dúvida cruel, encontrei, por acaso, dois comentários do Muricy a respeito dos jogos do São Paulo contra o Náutico e contra o Atlético Mineiro, partidas válidas pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2007 (para saber mais, clique aqui).

Em relação ao primeiro, ele disse: “No primeiro tempo eles (Náutico) tiveram mais posse de bola, só que o Rogério foi pouco acionado. No segundo, nós dominamos o Náutico durante os 20 minutos...”. Ainda sobre esse jogo, o Muricy disse o seguinte a respeito do atacante Aloísio: “O Aloísio estava bem na partida. Ele fez bem o papel de pivô, que é a função dele, e nosso time melhorou, se adaptou ao gramado, e iríamos fazer o gol em questão de tempo”.

Em relação ao segundo jogo, o Muricy disse o seguinte: “Foi o nosso melhor jogo (do campeonato nacional). A parte tática fluiu melhor, o Dagoberto foi bem...”.

Pois bem. O primeiro jogo o São Paulo perdeu por 1 a 0, e o elogiado Aloísio foi expulso. No segundo jogo, o São Paulo perdeu pelo mesmo placar, com o agravante de estar jogando no Cícero Pompeu de Toledo, vulgo Morumbi.

Diante disso, tive a sensação de que ao menos um critério seguro para que se demita um técnico estava se me apresentando: o da loucura!

Com muita facilidade consegui chegar a conclusão de que ele é louco, nem precisei apelar ao fato dele escalar os meias armadores como volantes, os volantes como líberos, os atacantes como meia armadores, os zagueiros como alas, e assim por diante.

Enfim, namorada super-gostosona, mas louca, até que dá pra agüentar. Mas técnico de futebol, sobretudo no meu São Paulo, tem que estar bem da cachola.


Denis Barbosa Cacique (vulgo Zagueiro Míope) – 13 de junho de 2007

terça-feira, 12 de junho de 2007

RUIM-QUE-FAZ-GOL: Problema ou Solução?

Suponho, amantes do ludopédio, que várias vezes já parastes para refletir sobre aquele centroavante grosso, grandalhão, estabanado, que não consegue dominar uma bola sequer, que não é capaz de dar um passe sem que a esfera rodopie quadradamente pelo gramado, aquele centroavante que, apesar de tudo isso... faz gols a dar com um pau. Sim, estou falando desta tão afamada e controversa criatura ludopédica, cujo primeiro espécime foi descoberto no final da década de 60 e ficou conhecido pelo codinome "Dadá Maravilha". Contudo, o primeiro exemplar estudado mais a fundo pelos cientistas da bola apareceu em meados dos anos 70 e foi classificado pelos biólogos podo-esféricos como pertencente à espécie Serginhus do subgênero Chulapae.

Desde então, inúmeras variantes surgiram e, embora os Chulapae mais recentes não tenham vingado como o pioneiro, outros gêneros tornaram-se conhecidos do público e foram englobados sob uma mesma denominação de origem vulgar: RUIM-QUE-FAZ-GOL. Todos eles puderam ser classificados como integrantes de uma mesma categoria devido à característica marcante assinalada por mim no início deste solene papo-furado. Uma característica realmente notável pelo fato de circunscrever sob a lista de atributos destes seres predicados claramente opostos e até mesmos contraditórios. Com efeito, o que congrega todos os RUINS-QUE-FAZEM-GOL dentro de uma mesma classe é a sua capacidade, constituída na base de um poder completamente inexplicável, oculto, quase místico, de realizar o feito máximo do futebol com incontestável eficácia e impressionante freqüência, ao mesmo tempo em que apresentam uma total inépcia físico-motora para a prática desse desporto.

O que mais chama a atenção, todavia, é o fato de que os RUINS-QUE-FAZEM-GOL não apenas ajudaram bastante suas equipes ao longo da história, como, além disso, configuraram-se muitas vezes como os heróis maiorais do espetáculo. Lembrai-vos, por exemplo, daquele personagem de memória trágica para os habitantes da Terra Prometida do ludopédio: Paolo Rossi, que, com o sobrenatural auxílio de sua canela apurada, foi santificado pelo povo itálico como semi-deus do tri mundial, após praticar verdadeiras carnificinas contra o esquadrão tupiniquim e contra o bárbaro exército germânico.

Entretanto, apesar de tantos grandes feitos, essa entidade futebolística sempre esteve longe de alcançar a unanimidade, seja entre os profissionais do comentário esportivo, seja entre os seguidores desinteressados. Pelo contrário, o RUIM-QUE-FAZ-GOL é alvo de interminável polêmica, especialmente nos dias de hoje, em que a habilidade técnica e a inventividade cada vez mais dão lugar à eficiência fria e ao pragmatismo. De fato, o RUIM-QUE-FAZ-GOL, por tudo que já foi dito, mostra-se como uma espécie de patinho-feio para os amantes do futebol romântico: um jogador que só é jogador porque o futebol exige resultados e que seria imediatamente banido, caso o esporte retornasse ao seu período lúdico e artístico.

Contudo, o que me leva a pensar que esse tema alça uma polêmica ainda maior do que o eterno bate-boca entre amantes do jogo romântico e defensores do futebol de resultados, é o fato de que, mesmo entre os integrantes do segundo grupo, o RUIM-QUE-FAZ-GOL gera atrito e nem de longe pode ser visto como uma unanimidade. Arrisco-me até a dizer que atualmente o RUIM-QUE-FAZ-GOL é o ser mais intrigante dentre todos os outros do mundo da bola.

Não nego, obviamente, que outras criaturas ludopédicas, conhecidas desde o passado mais remoto, continuam sendo até hoje extremamente fascinantes, embora parcamente compreendidas e estudadas. Cito como exemplos: o BEQUE-DE-FAZENDA; o GOLEIRO-OITO-OU-OITENTA (o arqueiro que nunca passa despercebido: ora faz milagres antológicos, ora lambanças monumentais); e o TALISMÃ (aquele jogador, normalmente um baixinho veloz, que mata a pau e arrebenta com o jogo quando sai do banco no segundo tempo, mas que não faz absolutamente nada quando começa como titular). Ainda assim, penso que o RUIM-QUE-FAZ-GOL é uma figura incomparavelmente controversa por dois motivos, que estão interconectados entre si. Primeiro: o questionamento feito a esse jogador pelos que o atacam diz respeito à sua própria legitimidade como jogador de futebol: põe-se em dúvida se ele deveria mesmo ser aceito por times profissionais. Segundo: os que o defendem não apenas respondem que ele deve ser aceito, como ainda o alçam à condição de jogador fundamental.

Deste modo, notamos que a questão é posta como uma dicotomia radical: o RUIM-QUE-FAZ-GOL é indispensável ou deveria ser simplesmente abolido? De fato, quando se trata do RUIM-QUE-FAZ-GOL, não há simples afeição, simpatia, aversão, desagrado, e muito menos indiferença. Trata-se de amor ou ódio. Os dois partidos são visíveis e claramente antagônicos. Os defensores do RUIM-QUE-FAZ-GOL atribuem a ele a condição de jogador fundamental, cujos serviços são primordiais para que uma equipe obtenha sucesso. Afinal, ele é um mestre em realizar o summum bonum futebolístico. Seus detratores, por outro lado, afirmam que tal jogador é um peso morto, um fardo que o resto do time é obrigado a carregar; afirmam ainda que até mesmo as progenitoras dos nossos pais fariam aqueles gols de canela dentro da pequena área; afirmam, além disso, que esses jogadores são parasitas, sanguessugas que roubam toda a energia da equipe e a convertem em beneficio próprio, a fim de realizarem os tentos que irão promovê-los.

O problema, portanto, é posto em termos extremamente conflitantes. O que devemos fazer com os nossos Crespos, Inzaghis, Van Nistelrooys, Kloses e Palermos? Devemos alçá-los ao topo da teocracia futebolística, cobri-los de louros, pagar a eles os melhores salários e louvá-los como realizadores natos da obra suprema do deus Ludopédio? Ou devemos condená-los ao eterno ostracismo e deportá-los para as lúgubres relvas varzeanas e para as arenosas canchas dos ébrios embates dominicais entre casados e solteiros? Ou será possível encontrar uma terceira via moderada? O fato é que não podemos ser indiferentes a eles.

César Eduardo Zambon

Improbabilidades Infinitas - Estréia



Santos por 20 mili Adams

Além dos comentários dos jogos (a que já demos início), este blog contará com algumas seções fixas. A primeira delas (e por enquanto a única) a ser inaugurada, por este post, receberá o nome de "Improbabilidades Infinitas". Como o título, provavelmente, deve ter deixado claro, nesta seção relataremos algumas manifestações do imponderável, do incondicionado, enfim, da zebra que insiste em rondar o futebol. "Improbabilidade Infinita" é, em suma, o "Sobrenatural de Almeida" em terminologia "quântica".

Devia ter sido dito "nerdica", ao invés de quântica, já que para a escolha desse título, a física só serviu de pretexto. Do mesmo modo como, provavelmente, deve ter servido para Douglas Adams criar o conceito em sua comédia de ficção científica "Guia do Mochileiro das Galáxias". Na "trilogia de 4 livros" (ou 5, mas, isso não vem ao caso agora) tomamos contato com a "teoria da Improbabilidade Infinita" por meio de sua aplicação prática: "O motor de improbabilidade infinita" (mais, em inglês, no link) Esse motor é capaz de produzir um campo de improbabilidade de qualquer magnitude, que revoga gradativamente todas as leis da natureza, até o ponto de permitir que um determinado veículo esteja em todos os lugares do universo ao mesmo tempo, inclusive aquele onde se quer chegar. Depois, basta desligar o motor e sobreviver aos efeitos colaterais.

Mas, por que esse foi escolhido como o nome da seção? O que isso tem a ver com futebol? Ora, de que outra forma conseguiremos explicar os diversos fenômenos bizarros que já presenciamos, além da hípotese (ridiculamente improvável e descaradamente pseudo-científica) de que a bola projeta um campo de improbabilidade de magnitude variável? Existe forma melhor para explicar os tais (citando o colega) "lances que até mesmo o narrador se perde ao tentar descrever" que aconteceram na Vila Belmiro na noite passada?

Nem mesmo esses lances, contudo, foram suficientes para fornecer a essa seção seu relato de estréia. Infelizmente, a magnitude do campo de improbabilidade não era grande o suficiente e esta seção teve que se reter apenas a uma explicação de seu título. Por apenas um gol ou alguns "Adams" de improbabilidade.

Santos, Grêmio e uma Pilha de Pratos


Como numa casa é necessário que alguém se responsabilize por lavar os pratos, não pude assistir ao primeiro tempo do jogo de volta entre Santos e Grêmio, pela Copa Libertadores da América.

Perdendo o primeiro tempo, perdi também, no sentido pragmático da expressão, o que houve de mais importante na partida, o belo gol de Diego Souza, do time gaúcho, logo no início do jogo. Sim, o que houve de mais importante, já que a virada santista, a despeito do belo espetáculo que proporcionou, foi insuficiente para levar o time paulista à tão desejada final sul-americana, fosse contra o desconhecido Cucuta, da Colômbia, ou contra o sempre perigoso Boca Juniors, da Argentina.

Penso que, apesar do fracasso, a equipe da baixada poderia ter saído de campo com a cabeça erguida. O gol sofrido logo no início do jogo poderia ter servido como um banho de água fria nos jogadores santista, porém, pelo contrário, serviu apenas para despertá-los ainda mais. Afoitos, eles lançaram-se ao ataque em busca do empate, que veio já nos acréscimos, com Renatinho, jogador escolhido por Luxemburgo para substituir Maldonado, contundido.

No segundo tempo, o time santista fez mais dois gols. Não julgo que tenha merecido alcançar o quarto, que, de fato, não alcançou. Todos os três resultaram daqueles típicos lances estranhos que até mesmo o narrador se perde ao tentar descrever: a bola bate em um, rebate em outro, sobra e, de repente, morre nas redes. Foram gols feios.

Ora, mas se o time fracassou por não assegurar a classificação e, além disso, venceu com três gols feios, que motivo pode haver para que se diga que a equipe santista poderia ter deixado o campo de cabeça erguida? Duas coisas, técnica e vontade, qualidades que, à medida que o futebol vai tornando-se cada vez mais profissional e preocupado com o preparo físico dos atletas, ficam cada vez mais difíceis de encontrar numa equipe, sobretudo reunidas.

O time santista, ainda que fora da final, reúne essas duas qualidades. É muito agradável ver Zé Roberto e Kleber jogarem. Parece que, para eles, dominar e conduzir a bola, mesmo quando a marcação adversária é cerrada, como faz eximiamente o time gremista, são tarefas das mais fáceis.

Com tanta técnica, podia acontecer do time santista pecar por falta de vontade, como ocorreu à seleção brasileira na ultima copa, mas, pelo contrário, ainda que quase sempre de modo desorganizado e cometendo muitos erros, foi incansável na defesa e no ataque.

Ao torcedor santista fanático, talvez essas coisas passem despercebidas ou, sendo notadas, não sirvam de consolo. A mim, mero lavador de pratos, torcedor dum outro time paulista, importa mais o espetáculo.

Denis Barbosa Cacique (vulgo Zagueiro Míope) – 7 de junho de 2007