terça-feira, 26 de junho de 2007

Socorro! O Pan está chegando. Levem-me para Pasárgada!


Socorro! Está chegando o momento mais terrível do ano para os amantes fiéis do esporte mais popular do mundo. Estamos às portas do Pan-americano. Estamos às portas do triste mês em que nosso amado ludopédio será chutado para escanteio e abandonado à desonrante condição de coisa secundária pela grande mídia. Tudo bem, isso irá durar menos do que trinta dias, mas, mesmo assim, os efeitos serão trágicos. Já estão sendo. De fato, o pior de tudo é que desta vez o Pan será realizado no Brasil e, com isso, a cobertura midiática será massiva... meu Deus! O desastre é sem precedente: não há Olimpíada ou visita do Papa que se compare.

Antes de mais nada, já vou logo dizendo que eu não teria absolutamente nada contra o Pan-americano, contanto que ele ficasse quietinho no seu canto, enquadrado nas proporções reais da sua irrisória magnitude e, principalmente, sem atrapalhar coisas mais importantes. Todavia, o que está acontecendo é justamente o oposto. Jogos do Brasileirão estão sendo adiados sem dó e o prejuízo ao certame já foi consumado.

Este problema dos adiamentos prejudica diretamente os clubes. Equipes que vivem bons momentos, como Botafogo e Corinthians, tiveram jogos adiados para um longínquo outubro: sabe-se lá qual será a situação de seus elencos em tal momento. Ah, claro, algum comentarista oficial, daqueles politicamente corretos, irá objetar: “Mas foi só agora que descobriram que tem Pan? Além do mais, temos de dar espaço para os outros esportes, blá, blá, blá...”. Eu respondo: meu filho, não interessa quando descobriram, se foi agora, há um ano ou há três anos: os jogos seriam adiados do mesmo jeito, ou, mesmo que não fossem adiados, seriam transferidos de local e ainda teríamos um sério problema.

Afinal, a principal vantagem do sistema de pontos corridos é que ele coloca todos os times em igualdade de condições: dezenove jogos em casa, dezenove fora. Com a transferência, porém, Botafogo x Corinthians teria que acontecer em alguma Volta Redonda ou Juiz de Fora da vida. E não adianta: ninguém vai me convencer que Volta Redonda é a casa do Botafogo ou de qualquer outro dos grandes cariocas. Já não bastam os anos anteriores? Em 2005 e parte de 2006, três deles (o Vasco foi exceção porque tem São Januário) tiveram de realizar seus jogos no interior fluminense, por causa da... reforma no Maracanã, que foi feita por causa do... Pan! E o clássico dos milhões, Flamengo x Vasco? Onde ele seria disputado? Aracaju ou Natal, provavelmente (aliás, transferir clássicos para o Nordeste é um expediente lamentável, que já foi utilizado várias vezes, com o intuito de aumentar as rendas). Agora, que me desculpem, mas um Flamengo x Vasco fora do Maracanã não é um Flamengo x Vasco.

E o pior é que todo esse problema está sendo criado não apenas por causa dos Jogos Pan-americanos em si, mas também e principalmente por causa do tal show de abertura. Um palhaço não sei de onde virá para cá fazer mais uma daquelas apresentações chatíssimas, com coreografias manjadas e monótonas: um bando de patetas vestidos de bandeira dançando para lá e para cá. E, por causa disso, o Maracanã tem que ser fechado e o Brasileirão melado. O espírito de Mario Filho deve estar chorando em algum canto do céu ludopédico e nem mesmo Nélson Rodrigues será capaz de consolá-lo.

O pior é que depois da abertura vêm os jogos propriamente ditos. Sinceramente, não sei por que tanto escândalo diante de uma competiçãozinha mixuruca que não serve para absolutamente nada. Sou até obrigado a trazer de volta à tona a nefasta figura do finado Roque Citadini (ou será que ele ainda está vivo?), ex-dirigente corintiano, que, embora especialista em dizer asneiras, certa vez nos presenteou com a seguinte pérola: “Pan-americano é uma espécie de Jogos Abertos do Interior que tem uns gaiatos falando espanhol”. Impossível não concordar com ele. Com efeito, não consigo ver nenhum atrativo especial em uma porcaria de competição, desprezada por todos os países e que até a República Dominicana foi capaz de “organizar”.

Mas o pior (acho que eu já disse “mas o pior” umas dez vezes) é que o prejuízo não se restringe aos clubes, mas afeta também o torcedor. Já estamos conhecendo aquela sensação desagradável de olhar para a tabela e ver que a maioria dos times disputou sete jogos, outros seis, alguns poucos oito etc. E isso ficará ainda pior daqui para frente. Será impossível saber quem é o líder de verdade, o vice, quem está na Libertadores, quem está sendo rebaixado...

Isso sem falar no sofrimento que a TV nos causará. Além das mesas redondas e noticiários esportivos, que ficarão infestados pelas baboseiras do Pan, até as próprias transmissões dos jogos do Brasileirão serão maculadas. Que inferno! Você está lá, tranqüilo, assistindo a uma disputada peleja, quando, de repente, surge no canto da tela aquela maldita janelinha. Em seguida, um miserável de um repórter interrompe o narrador e começa a vociferar histericamente: “Estamos aqui ao vivo com a final dos 800 metros do Nado Pintassilgo!”. E o jogo lá, a toda: bola na trave, expulsão, pênalti, gol... e o lazarento do repórter não pára de falar do Nado Pintassilgo! Mas o pior (de novo) é que, quando a importantíssima prova de natação finalmente chega ao fim, com a vitória de algum americano e o brasileiro em último lugar, e você pensa que terá seu futebol de volta, o narrador manda aquela frase funesta, uma verdadeira punhalada no estômago do torcedor: “Agora, faremos uma pausa no futebol para acompanhar a finalíssima do salto ornamental triplo com vara”. Cara, a sorte da minha TV é que eu não tenho uma arma em casa. E o pior de tudo (ah, como eu sou repetitivo) é que todas as TVs que transmitem futebol (Globo, Bandeirantes e Sportv) farão cobertura total do Pan...

O pior (eu juro que é a última vez) é que não há nenhuma Liliput, Cucolândia das Nuvens, Utopia, e nem sequer uma ilha de Lost onde possamos nos refugiar durante esse tétrico mês. Ah, bem que poderia existir uma Pasárgada ludopédica, um país onde o único esporte praticado fosse o futebol. Minhas malas já estariam prontas. Eu nem precisaria ser amigo do rei, nem exigiria ter a mulher que eu quisesse, muito menos escolher a cama. Ficar livre do salto triplo com vara ornamental e seus afins já seria mais do que o suficiente.

5 comentários:

Denis Barbosa Cacique disse...

Cesar, muito engraçado o seu texto. Tive uma crise de gargalhada muda ao ler os parágrafos finais. O pior é que vc nem mesmo chegou às modalidades verdadeiramente piores: tiro no redondo com espingarda de sei lá qtos milimetros, marcha olimpica, nado borboleta... a lista é grande!
O pior é q não tenho nada contra os jogos, e sim contra o papel ridículo q a mídia faz ao dar a eles uma importância q estão longes de ter. E o pior é q a maioria dos brasileiros nem sabe dizer pq a finlandia e a australia não foram convidadas pros jogos. Mas o pior é q eu quero mais é q o Corinthians vá jogar num campinho de terra no cu do Maranhão!
Parabéns pelo texto!

Anônimo disse...

muinto bom o seu texto apesar que nao li ele enteiro mais parece ser muinto bom parabens

Anônimo disse...

Eu acho o pan uma paiaçada... fala sério, tanto estardalhaço pra uma porcariazinha. Eu acho pessimo. C soh naum precisava ter citado Juiz de Fora. Poxa... nao eh nenhum maracanã, mas não faz mal a ninguém, nem aos mineiros ao insistir que é fluminense (ou carioca... sei lá qual é a deles).

Sidarta Martins disse...

Tomara que o quadro não seja tão negro quanto o que você pinta.

Duvido que as mesas redondas irão se arriscar a ficarem falando de hipismo, ginástica e tals.

Os boleiros não vão se arriscar falarem bobagens.

Abraços,

César Zambon disse...

Ao anônimo: foi mal, eu não quis ironizar Juiz de Fora não. Eu me expressei mal. Só quis dizer que qualquer lugar fora da cidade do Rio não é casa de nenhum dos grandes. E quando eu disse "interior fluminense", me referia a Volta Redonda, onde Fla, Flu e Bota jogaram quando o Maraca estava em obras.
Valeu pelo comentário.