sábado, 16 de junho de 2007

Perdido em Hollywood




A novela "Robinho" caracteriza-se principalmente por seus aspectos negativos: as atuações desastrosas e diálogos horríveis. Duas características que fazem dela mais um "dramalhão mexicano" do que uma "produção global". Os diálogos ruins ficaram por conta das declarações do argentino Tevez e, principalmente, do técnico da seleção brasileira (mais sobre isso, em post específico). Já, as atuações da FIFA, CBF e Real Madrid são exageradas para tentar, inutilmente, ocultar a incompetência canastrona diante de um problema simples. Contudo, o pior não é a baixa qualidade da tal "novela". O pior é o fato dela estar ofuscando dois outros aspectos dramáticos mais interessantes dessa rodada final. O primeiro deles, mais óbvio, é a rodada em si e a possibilidade do Real Madrid conquistar o título que pode tirá-lo da crise dos últimos tempos. E o segundo é a despedida do meia inglês David Beckham não só do Real Madrid, mas do futebol, ou pelo menos, do futebol "mainstream".

Há alguns meses atrás, todo esse drama caminhava para um final melancólico. O Real Madrid estava em crise. O fim da era galáctica estava anunciado. Capello havia identificado Beckham como parte do grupo responsável pela derrocada do time merengue. O jogador mal ficava no banco de reservas. E, por fim, foi duramente atingido pela "limpa" dos membros da era galáctica, tendo sua dispensa anunciada para o fim da temporada. Sem perspectivas financeiramente viáveis (é preciso manter o padrão de vida, afinal, o que diriam as amigas de Victoria?) dentro do mercado mainstream, o jogador aceitou a proposta do Los Angeles Galaxy. Com as passagens para Los Angeles já reservada, e a mansão em Beverly Hills já comprada, parecia não restar mais nada ao herói inglês a não ser esperar sentado, no banco de reservas, pelo anti-climático final. Contudo,
a trama logo sofreria uma virada. Não brusca como nos filmes hollywoodianos, mas cadenciada como seu jogo. Sua precisão nas bolas paradas, seu cadenciamento e boa composição de meio de campo trouxeram estabilidade ao indefinido time de Capello e, logo, ele já estava escalado para o primeiro jogo da Liga dos Campeões contra o Bayern de Munique. Beckham jogou bem, quase tão bem quanto nos tempos de Manchester, e Capelo já não pôde mais negar que o meia britânico fazia bem, muito bem, a seu time ainda pré-montado. O retorno de Beckham, contudo, não foi o suficiente para impedir a eliminação do Real da liga dos campeões em jogo que contou com Robinho no banco e lance desleixado de Roberto Carlos (dois fatores presentes também em outra eliminação...). Porém, mantendo-se na toada de compor o meio de campo, levar perigo nas bolas paradas e cadenciar o jogo, o inglês tornou-se peça fundamental para a recuperação merengue, que, por sorte, ocorreu no mais oportuno dos momentos: a derrocada do Barcelona.
E, para completar a reviravolta, o meia volta a seleção de seu país, não apenas para o amistoso contra o Brasil, mas para tentar salvar a Inglaterra de um vergonhoso fracasso nas eliminatórias para a Eurocopa.

Não estou dizendo que a ressurreição do Real Madrid se deva somente à David Beckham. Talvez a integração de Robinho ao time titular ou a chegada dos novos reforços tenham sido fatores mais decisivos do que as atuações do meia inglês. Afinal, Beckham nunca foi um jogador tão decisivo. Nunca foi desses que resolve sozinho. Nem nos tempos de Manchester. E, também, nunca foi apenas um "Marcelinho piorado". Beckham é um bom jogador que se destaca, principalmente, por sua lucidez acima da média. Essa lucidez, contudo, parece funcionar apenas dentro de campo. Fora dele, o inglês optou por mergulhar de cabeça no estilo de vida de celebridade. E, embora, não tenha sido, em momento algum, o mais brilhante dos jogadores, tornou-se, sem dúvida, a mais brilhante das estrelas do "star system" futebolístico. Ironicamente, sua ascensão à ícone pop atrapalhou seu reconhecimento como jogador. Não apenas pelas interferências do estilo de vida em seu rendimento em campo, mas, principalmente, pela interferência sob o modo com que os outros enxergavam suas atuações. Simplesmente por que jogador algum poderia ter um rendimento dentro de campo equivalente a exposição de Beckham fora dele. A expectativa de genialidade impediu em muitos a visão do talento.

A ida para Hollywood é mais um indício de que a devoção e a lucidez de Beckham se restringem às quatro linhas. E, esse, talvez seja um indício emblemático. Ao escolher Hollywood, Beckham parece ter anunciado nas entrelinhas o fim da divisão entre a celebridade e o jogador de futebol. Decidindo-se por ser celebridade em tempo integral. E, é daí, que vem o aspecto dramático de sua última partida pelo Real. Esse pode ser seu ato final como jogador "de verdade". E, embora, o epílogo desta história (em Hollywood) já esteja encaminhado, não consigo prever seu final. Apenas torcer para que seja digno.

Brunão (a.k.a "Goleiro Nerd") joga com a Inglaterra no Fifa porque acha o Brasil muito apelão...

6 comentários:

Anônimo disse...

Concordo. Carreira um tanto quanto ofuscada pelo estrelismo. Nunca esteve entre os 3 melhores do mundo, mas foi um craque com caracteírticas difíceis de se encontrar (pelo menos no nível dele). Vai fazer falta ao Real com certeza.

César Zambon disse...

"futebol mainstream" foi sensacional. Espero que você não se importe se eu pegar essa expressão imprestada em alguns textos.

Brunão disse...

Rss. Valew. É claro que eu não me importo...

Denis Barbosa Cacique disse...

Belo texto, Brunão.
Faltou dizer q vc acha o cara gostosão. Vamos lá, vivemos em tempos de liberdade, não se sinta constrangido!
Agora, falando sério, acho q vc definiu bem esse jogador. Talvez vc pudesse tê-lo comparado, ao menos em relação ao futebol que jogam, ao Ricardinho. Ambos tem um bom toque de bola, são muito bons na bola parada, não são rápidos, não são craques, conseguem organizar o meio campo.. enfim... só q o Ricardinho é feio pra diabo!
Sobre a novela Robinho, achei q vc ia explorar a questão NIKE+CBF+BARCELONA vs REAL MADRID+ADIDAS.

Denis Barbosa Cacique disse...

ah, antes q eu me esqueça: jogar com a ingleterra não é ser muito apelão!? ah, faz favor
é igual o pessoal q joga com o Milna pq o Barça é muito apelão..
Nem vem. Quem é bom joga com o Japon, néééééééé

Brunão disse...

Ow, Denis, eu jogo com o Milan as vezes...rss... mas, eu gosto mesmo do Arsenal...rss