Estágio 1: MOLEQUE (~17 a ~20 anos)
Trata-se daquele primeiro estágio em que o imberbe futebolista ainda é uma incógnita. Há um consenso geral de que, nesse momento, é impossível determinar se o garoto irá vingar ou não. Os comentaristas oficiais costumam dizer o seguinte: a) se o garoto parece levar jeito: “Fulano tem um grande futuro pela frente, mas temos de esperar, pois ainda é muito cedo para julgá-lo. Ele tem muito a evoluir”; b) se o garoto parece ser um perna-de-pau: “Beltrano ainda não demonstrou um futebol convincente, mas temos de esperar, pois ainda é muito cedo para julgá-lo. Ele poderá evoluir”.
Ex: Alexandre Pato, Willian (Corinthians), Carlos Eduardo
Estágio 2: TWEENER (~20 a ~24 anos)
Os MOLEQUES que se tornam craques não passam por aqui: eles migram direto para o terceiro estágio. Por outro lado, os que ainda não convenceram suficientemente para serem considerados MADUROS, mas que, concomitantemente, estão a tempo demais na praça para serem chamados de MOLEQUES, acabam ficando no meio do caminho entre um estágio e outro*. Esse estágio aqui costuma ser uma espécie de divisor de águas: os que passam por ele tornam-se bons ou ótimos jogadores; os que são reprovados caem nas categorias de medíocres ou ruins.
Ex: Diego e Robinho
*Não encontrei nenhuma palavra em português que dê conta tão bem dessa situação quanto o termo inglês Tweener.
Estágio 3: JOGADOR MADURO (~21 a ~28 anos para os craques e ~25 a ~28 anos para os que vieram do TWEENER)
Encontram-se aqui os jogadores considerados “prontos”: já evoluíram tudo que tinham para evoluir e atingem o auge físico e técnico. Os bons e ótimos vivem seu esplendor durante esse período; os craques têm sua craquidade confirmada.
Ex: Kaká, Eto'o, Ronaldinho, Lampard, Gerrard
Estágio 4: JOGADOR RODADO (~28 a 30 anos)
Os maduros continuam sendo maduros. A diferença é que aqui eles passam a ter a companhia dos medíocres e ruins que sobreviveram e chegaram a essa idade.
Ex: Todos que têm entre ~28 e 30 anos
Estágio 5: JOGADOR EXPERIENTE (30 a ~33 anos)
30 anos é uma marca sagrada (algumas vezes demoníaca) na carreira de um jogador de futebol: após completar três dezenas de carnavais, sua carreira inevitavelmente sofre mudanças, sejam elas positivas ou negativas. Alguns, demonstrando clara decadência, não jogam mais o mesmo futebol de antes e acabam caindo diretamente para o temido estágio sétimo; outros, ao contrário, conseguem unir as mesmas qualidades que sempre tiveram à experiência adquirida. Tornam-se, assim, até melhores do que eram antes. Estes últimos são os privilegiados que recebem o nobre título de EXPERIENTES (quando digo “nobre”, refiro-me obviamente à acepção literal do termo. Afinal, todos nós conhecemos o sentido irônico e pejorativo da palavra – um eufemismo de “velho” ou “decadente”).
Ex: Zé Roberto, Henry, Paul Scholes
Obs.: Nos dois próximos estágios, me abstive de colocar entre parênteses as faixas etárias, simplesmente porque considero impossível estabelecê-las. O estágio 6 é uma sociedade extremamente restrita e depende muito da individualidade e das contingências na carreira do jogador. Já o estágio 7 é o mais flexível de todos no que concerne à classificação etária, pois jogadores de quase todas idades, em quaisquer momentos de suas vidas, podem dar de cara com ele, por motivos dos mais variados (decadência física, síndrome do “chinelinho”, tendência para a ingestão de substâncias etílicas, comportamento vampírico no tratamento da distinção dia-noite etc.).
Estágio 6: KNOCKING ON HEAVEN’S DOOR
Este é um estágio exclusivo para craques e ótimos jogadores que não encerraram suas carreiras quando ainda eram EXPERIENTES. Chega até aqui o craque ou ótimo jogador cujas pernas já não agüentam mais o mesmo tranco, embora ele demonstre claramente que ainda tem lenha para queimar. De fato, o esplendor da fase EXPERIENTE ficou para trás, mas, ainda assim, o futebolista tira todo o caldo da sua qualidade técnica e consegue jogar o suficiente para ser considerado fundamental, tanto pelos seus companheiros e por seu técnico, quanto pela imprensa e até mesmo pelos corneteiros. Contudo, ele deve se cuidar: esse estágio tem sempre curta duração e a linha que o separa do próximo é tênue. Quando ele começar a ouvir a voz de Bob Dylan (ou de Axl Rose, de Eric Clapton, ou até o bom português de Zé Ramalho) cantando os lúgubres versos, isso significa que a “fria nuvem escura está descendo” e chegou a hora de parar. Ex: Del Piero, Ryan Giggs, Thuram
Estágio 7: EX-JOGADOR EM ATIVIDADE
“... acariciar a serpente que nos mata até que ela devore nosso coração”. Foi assim que Voltaire, em algum lugar do Cândido, definiu a saga dos miseráveis que, por um inexplicável apreço à sua mal-fadada existência, fazem esforços hercúleos para evitar a morte e seguir em sua trilha de infortúnios. O presente estágio, uma espécie de último círculo do inferno ludopédico, mostra-se como um paralelo disso no futebol.
Quando o jogador chega até aqui, ocorre o seguinte fenômeno: apenas ele próprio, o técnico (ou o presidente) de sua equipe e alguns poucos membros da imprensa acham que ele ainda rende alguma coisa dentro de campo. Essa fase é tão lamentável que nela medíocres e craques (ex-craques) praticamente se igualam: eles se arrastam pelas canchas, tentando, sem o menor sucesso, fazer o que faziam antes, crentes de que ainda são capazes de realizar os mesmos feitos de outrora. De modo que acabam, inevitavelmente, virando motivo de piada para os corneteiros. A carreira do jogador passa a ser uma luta agônica contra o sempre impiedoso punhal do tempo. E tudo isso, com o único intuito de sustentar um fardo que se torna mais pesado a cada prélio. Em outras palavras: a carreira do jogador já acabou, mas ele ainda não foi informado...
Ex: Ronaldo, Roberto Carlos, Cafu (assitam a jogos da série B e inúmeros outros exemplos surgirão)
Estágio 8: NÃO-ACREDITO-QUE-ESSE-CARA-AINDA-JOGA (~35 anos a ?)
A característica marcante deste último e deplorável estágio é que o jogador, após sua fase EXPERIENTE ou de EX-JOGADOR EM ATIVIDADE, desaparece completamente do mapa, fazendo com que todos acreditem que ele encerrou a carreira. Todavia, quando menos se espera, ele reaparece sub-repticiamente, atuando em alguma série B, série C, série A-2 ou algo assim. E quando isso ocorre e ele é notado por alguém que acompanha futebol a tempo suficiente, a frase-título do estágio é pronunciada em tom exclamativo. Esse tipo de jogador também é conhecido por suscitar comentários do tipo: “Esse cara só pode ser gato”; “35 anos? Tá bom... só se forem 35 em cada perna!”; “Fulano? Ah, não... deve ser o filho dele que tem o mesmo nome”; “Não é possível! Quando esse cara jogava no time x em 19yz, ele já era velho!”.
Ex: Romário (uma exceção, de certo modo), Junior Baiano, Válber (aquele do São Paulo), Antonio Carlos
9 comentários:
Hahaha muito bom, excelente! E eu concordo com a classificação dos jogadores. Não parei de pensar no Romário do meio pro fim hehehe...
Mais um texto bacana, Cesar. Vou parar de elogiar, pq vc e o Bruno tao sempre mandando bem.
Qto a este, só achei q saiu descarnado dmais. Quer dizer, cê podia ter abusado dos exemplos, seria ótimo.
Lembra q sei lá qual prof disse q as pessoas normais tendem a entender das filosofias apenas os exemplos e não os conceitos? Pois é este o risco q agente corre qdo se mantem no nivel conceitual apenas.
Enfim... o texto tá ótimo mesmo assim.
Taí os exemplos
obs: o Romário é meio que uma categoria à parte. Ele é "ex-jogador em atividade" há uns oito anos, mas também não deixa de ser um "não-acredito" (embora não tenha sumido em momento algum)
Os exemplos deixaram seu texto mais interessante.
Sem contar que "um livro sem figura" não tem muita graça.
César e Dênis, é o seguinte, tomei um puxão de orelha de um profissional de redação pra WEB qto aos nossos links. Precisamos seguir uma norma (pq aumenta o nosso ranking no Google...).. q é a seguinte...
Não podemos colocar o link diretamente no texto e sim tornar um link a palavra chave, por exemplo, no texto do césar ele coloca o link do urbandictionary direto da página, mas, de acordo com a norma, tem-se que transformar em link a palavra mais importante, no caso, tweener.
Nós 3 já ferimos essa regra uma vez..rs.. então, vamos tentar seguí-la a partir de agora..rs.. qq problema, entrem em contato comigo...
Sobre o texto, mto bom. Porém, o fim da era dos craques está permitindo que jogadores com alguma técnica alonguem mais suas carreiras...e acho que a tendência é a aposentadoria se retardar cada vez mais...
Eu ainda acredito nos craques (e na terra do nunca também). Ainda vou escrever sobre isso.
Sobre a dica, pó deixar q vou seguir a risca, Bruno.
Mas q tal de ranking é esse?
Cara,... analfabetismo digital
analfabetismo funcional!
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